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terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Um contraponto à avassaladora força do capital financeiro !



        A sociedade contemporânea do século XXI está valorada pelo capital financeiro, todas as relações humanas são quantificadas e mensuradas pela sua eficiência e eficácia, ou seja, a capacidade de gerar um retorno financeiro sob certo capital investido. É uma realidade que reverbera nas instituições do Estado, tornando o exercício da cidadania um fardo, onde cada cidadão passa a ser um escravo de uma determinada lógica, formulada por uma ética liberal, ou melhor, neoliberal.

         Entende-se que a ética liberal, os liberais, na linha de Hobbes, defendem que a política está desprovida de significação moral, que o Estado não é mais do que um instrumento destinado a assegurar a coexistência pacífica dos indivíduos numa determinada sociedade contratualista. Os liberais defendem a prioridade do "justo sobre o bem", As teorias políticas liberais são inseparáveis do individualismo moderno ao valorizarem o indivíduo em relação ao grupo social e por se oporem às visões coletivistas da política que tendem a valorizar o grupo social e não o indivíduo. A sociedade liberal induz os membros da sua sociedade a uma atitude individualista, egocêntrica que tem efeitos desestruturastes sobre a identidade individual e do grupo.

         O individualismo tira força à vida em comunidade, fato que produz um desinteresse pelas questões do político e da liberdade. Preocupa-se cada vez menos com a participação pública e fica-se "em nossa casa" a desfrutar dos prazeres da vida privada, principalmente num tempo em que o Estado nos fornece os meios para o fazer.

         Segundo os Liberais, os indivíduos não são definidos pelas suas interdependências - económicas, sociais, éticas, sexuais, culturais, políticas ou religiosas. Os indivíduos são livres de colocar em questão e de rejeitar qualquer particulares. São livres de questionar as suas convicções, mesmo as mais profundas. forma de participação em grupos, instituições ou atividades. O ser humano como um ser desencarnado, um sujeito sem raízes, descomprometido, mas capaz de escolher soberanamente os fins e os valores que orientam a sua existência.

         Se o mundo continuar nesta direção histórica, movido pelo neoliberalismo com as suasr forças sociais, políticas e econômicas, teremos um futuro com grave desiquilíbrio frente a uma acentuada desigualdade social, o que já está materializado e pode ser potencializado, pela enorme concentração de renda e riqueza nas mãos de uma pequena parcela da sociedade. A pergunta a ser fazer é: Qual é a finalidade da existência humana ?

         Para evitar um mal maior, cabe à sociedade pensar e defender um modelo econômico eticamente justo, que transforme as relações sociais com base em outro paradigma, a sugestão é o Comunitarismo. Ao afirmarem que o individualismo é inseparável da socialização, os comunitaristas pretendem mostrar que o indivíduo livre da concepção liberal é ele mesmo produto duma forma específica de socialização.

         Tanto do lado dos liberais como dos comunitaristas a liberdade é elevada à classe de princípio essencial. Ambas as partes sentem que uma sociedade só é justa se os membros que a compõe aí vivem livremente e, se a finalidade da atividade política for realizar as condições nas quais essa liberdade é possível.

         O que difere o liberalismo do comunitarismo é a proposta de que o indivíduo seja considerado membro inserido numa comunidade política de iguais. E, para que exista um aperfeiçoamento da vida política na democracia, é exigido uma cooperação social, um empenho público e participação política, isto é, formas de comportamento que ajudem ao enobrecimento da vida comunitária. Consequentemente, o indivíduo tem obrigações éticas para com a finalidade social, deve viver para a sua comunidade organizada em torno de uma só ideia substantiva de bem comum.

         Os liberais defendem a prioridade do "justo sobre o bem" e os comunitaristas defendem a prioridade do "bem sobre o justo".   No comunitarismo há a afirmação do justo sobre o bem, onde traça a fronteira entre os pensamentos morais antigos e modernos: os antigos colocavam a questão de qual o bem, que sendo objeto do meu desejo me levaria à melhor forma de vida (eudaimonia). Os liberais os modernos preocupam-se com a questão do justo, isto é, como é que eu devo agir, já não em relação ao meu bem, à minha felicidade, mas em relação às condições que tornam possível a procura do bem, conduzida por cada indivíduo (dever).

         As forças do capital financeiro são movidas por pessoas que têm valores éticos que fundamentam o modo de ser, cabe fazermos a seguinte pergunta: Qual é a alternativa melhor, o bem ou o justo ? Qual valor ético devemos fundamentar as nossas ações ? Os valores voltados para o indivíduo, ou seja, o neoliberalismo, ou os valores voltados para a sociedade, ou seja, o comunitarismo. Esta é a escolha existencial que a sociedade terá que fazer para ter um futuro mais próspero e justo para todos.


         Fragmentos do artigo:


         COMUNITARISMO OU LIBERALISMO? - Gisela Gonçalves, Universidade da Beira Interior, Setembro 1998.



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