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domingo, 16 de outubro de 2016

A Forma e o Conteúdo !




         O Homem nos últimos 10.000 anos tem evoluído na sua forma de estar no mundo, mas no conteúdo continua a ser o mesmo Homem. Através da consciência o Homem procura disciplinar, moldar o seu próprio inconsciente. É a força da razão que faz o Homem ter a forma contemporânea, embora os seu comportamento esteja marcado por traços do inconsciente que se rebela às amarras da razão do consciente.
         O Homem contemporâneo é um Ser-aí-no-mundo, um Homem que se projeta para o futuro a todo o momento da vida. Não existe um ponto único de partida ou de chegado, a todo instante é uma partida e uma chegada, não há ponto fixo, ou seja, a realidade sensível está por ser revelada e manipulada com o objetivo de dar uma nova forma ao Homem, embora no conteúdo continue o mesmo Homem.
         Mas em que o Homem não muda? O Homem não muda nos seus extintos mais primitivos, como a sobrevivência, a reprodução, a luta por um território existencial, que definem as forças inconscientes e direcionam o comportamento. Como podemos perceber tais evidências?
         Uma das evidências está na forma do Homem lidar com o poder, que em sua maioria está revestida de uma forma racional, lógica que justifica os sistemas vigentes, mas no conteúdo é opressor por privilegiar uma minoria em detrimento de uma maioria. Por trás da forma está a luta pela sobrevivência, pela reprodução e por um território existencial. É a materialização dos extintos mais primitivos do Homem, o Homem se comporta como um animal predador e autofágico.
         O Homem contemporâneo tem acesso à ciência, à educação, à vida em sociedade, que é complexa e desafiadora, mas continua primitivo, não consegue se libertar de si mesmo. É capaz de por tudo a perder para atender as suas necessidades egocêntricas, seu comportamento está direcionado por uma força egoísta, incapaz de ver o mundo por uma perspectiva altera.
         O Homem está aprisionado em sua própria forma de Ser-aí-no-mundo, não consegue sair de si mesmo e sem força para controlar seus instintos, o inconsciente passa a domar o consciente. De forma racional e consciente o Homem reproduz pelo discurso o que é mais primitivo e está em seu inconsciente.
         Um exemplo prático é a nova onda neoliberal do capitalismo vigente, que tem como maior objetivo aumentar o retorno sobre o capital investido, sem ter como base valores éticos e morais que dão sentido para a existência humana.
         Por isso nos últimos quarenta anos o mundo do trabalho tem sofrido uma precarização, o Estado de bem-estar social tem sido suprimido pelos valores neoliberais, na essência estamos voltando para Estado de barbárie, onde o mais forte sobrevive, reproduz e ocupa o seu espaço existencial. Assim, permitimos que haja no mundo com mais de 1 bilhão de pessoas vivendo em condições miseráveis.
         De que adianta toda a nossa evolução nesses últimos 10.000 anos se só mudamos a forma e não conseguimos mudar o conteúdo? Continuamos a ser bárbaros que se afirma pelo uso da força, seja militar, política ou econômica. Na verdade não mudamos e continuamos a ser os mesmos, só não moramos mais nas cavernas.
         O séc. XXI tem desafios que cobra do Homem uma mudança de conteúdo, pois a forma já existe. Para o paradigma da sustentabilidade se concretizar, o Homem terá que mudar o conteúdo de Ser-aí-no-mundo, terá que ser altero. Com um novo ponto de partida para um novo ponto de chegada. Ver o mundo como o outro, que tem a sua vida e merece ter a sua existência respeitada. O Homem não é o centro da vida, mais um ente periférico e frágil que pode ser extinto em virtude de um desiquilíbrio ambiental. O séc. XXI será marcado pela escolha que o Homem vier a fazer, muda seu conteúdo ou estará sujeito à extinção. É a escolha a fazer...


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