1ª
- Para Agostinho, “Deus, única esperança
e amante da verdade.” Agostinho tem uma esperança, que Deus faça com que
ele o conheça como Deus o conhece. É uma súplica por uma vida de intimidade com
quem é uma pessoa viva. Para Agostinho tudo mais nesta vida merece ser
desprezado em troca do conhecimento de Deus, e para tal Agostinho está disposto
a praticar a verdade para alcançar a luz, é um desejo do seu íntimo coração.
2ª
- E como prova de seu desejo íntimo, Agostinho faz uma confissão diante de Deus
e dos homens, ele tem consciência que poderia se esconder de si, mas nunca se
esconder de Deus. “É uma confissão feita,
não com palavras e com a voz do corpo, mas com o grito interior da alma e com o
clamor do pensamento, que os ouvidos de Deus já conhecem.” É aprova da
existência de um relacionamento de intimidade com Deus, onde nada está
escondido, o criador já sabe de tudo.
3ª
– Agostino fala do sentido de sua confissão, e por que os homens deveriam
ouvi-la, clama para que Deus lhe mostre os frutos deste trabalho. Que seja para
quem lê e ouve um instrumento para não se entregar ao desespero. Que esta
confissão desperte no ouvinte o amor pela misericórdia e pela doçura de Deus,
que fortaleça todos os fracos, e lhes permita tomar consciência da própria
fraqueza.
4ª
– Agostinho se confessa também aos homens, para que com ele agradeçam a Deus. Para
que respirem, aliviados, diante do bem que ele fez, e suspirem por suas culpas.
As boas ações são obras dos dons de Deus, as más são culpa sua e sujeitas ao
julgamento de Deus. Para que respirem de alívio pelo bem, suspirem pelo mal.
Neste momento Agostinho comunga com Deus e com os Homens a vida, faz com que
sua vida tenha um sentido existencial, que possa servir de exemplo, clama pela
misericórdia de Deus, que nunca abandona as obras começada, e completa em
Agostinho o que há de imperfeito. Pois este pode ser o fruto de suas confissões,
em relação, não aquilo que era, mas ao que é agora.
5ª
– Para Agostino, “só Deus conhece
verdadeiramente o homem”. E afirma: “És
tu, Senhor, quem me julgas. Quem, dentre os homens, conhece o que é do homem,
senão o espírito do homem que nele está”? Nesta afirmação existe a
compreensão de que Deus está no espírito do Homem, assim como o espírito do
Homem está em Deus, somos a derivação do espírito de Deus. Mas o Homem não é
onisciente de si mesmo, há algo no Homem que sequer este próprio Homem conhece,
só Deus conhece. A relação de Agostinho com Deus é uma visão em espelho de
maneira difusa, pois ainda não vê Deus face a face. Esta talvez seja uma das
maiores angústias da vida humana, o Homem em sua vida terrena tem um
conhecimento turvo da realidade, o que proporciona uma abertura para múltiplas
interpretações da realidade sensível. Para irmos além, ou seja, para o Homem
transcender a sua própria realidade, necessita fazer uma enorme profissão de fé
ao longo de sua trajetória existencial. Pois o que move o Homem em sua
caminhada é a esperança pelo o que o Homem acredita.
6ª
- Agostinho entende que a forma de se relacionar com o transcendente deve ser: “Deus procurado e amado antes e acima de
todas as coisas”. É uma forma de se relacionar com o transcendente, o
criador. Agostino tem a segurança de que ama a Deus, percebe que Deus o tocou
no seu coração com a tua palavra, e assim começou a amá-lo. E este amor é tão
profundo que Agostinho demonstra o que ama quando ama a Deus: “Não uma beleza corporal ou uma graça
transitória, nem o esplendor da luz, tão cara a meus olhos, nem as doces
melodias de variadas cantilenas, nem o suave odor das flores, dos unguentos,
dos aromas, nem o maná ou o mel, nem os membros tão suscetíveis às carícias
carnais. Nada disso eu amo, quando amo o meu Deus. E contudo amo a luz, a voz,
o perfume, o alimento o abraço, quando amo o meu Deus: a luz, a voz, o odor, o
alimento, o abraço do homem interior que habita em mim, onde para a minha alma
brilha uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não
destrói, de onde exala um perfume que o vento não dissipa, onde se saboreia uma
comida que o apetite não diminui, onde se estabelece um contato que a sociedade
não desfaz. Eis o que amo quando amo o meu Deus”. Ou seja, para Agostinho a
relação com o transcendente é uma relação de amor, que deriva para o mundo
criado por Deus na medida em que é aprofundado.
Para
Agostinho, o homem interior conheceu quem era Deus graças ao homem exterior,
garças aos sentidos do corpo. Perguntou pelo seu Deus a toda a imensidão do
universo, e este te respondeu: “Eu não
sou Deus, mas foi Ele quem te fez. Teu Deus é também a vida da tua vida”.
7ª
– Segundo Agostinho, “para chegar a Deus
é preciso ir além do mundo dos sentidos”. Existe uma força, que não só
vivifica a criatura, mas também sensibiliza o corpo que o Senhor te deu,
ordenando aos olhos, não que ouçam, mas vejam; e aos ouvidos, não que vejam,
mas ouçam; e assim determinou a cada um dos outros sentidos a respectiva
posição e atividade. É por meio dos sentidos que exerço as diversas funções,
sem deixar de ser um único espírito. Ou seja, por um esforço concentrado, sem
distrações é possível chegar a Deus. O que seria esse ato senão o ato de orar?
De se comunicar, de se relacionar com Deus.
Estes
sete parágrafos demonstram como Santo Agostinho se relaciona com o
transcendente, uma relação com um Ser vivo que conhece o Homem profundamente.
Para Agostinho o processo de reconhecimento deste relacionamento se realiza
pelos sentidos, na medida em que o Homem ama a Deus, mais ele comunga este amor
com a criação de Deus. E este processo de reconhecimento é feito por um esforço
do próprio Homem. Está ao alcance do Homem, é uma busca existencial do Homem.
E
a presença de Deus se realiza na trajetória histórica da vida humana, é uma
experiência singular, da qual é possível e está ao alcance do Homem que ama a
Deus sobre todas as coisas, acredito que o primeiro passo é o uso da fé.
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