Sim, existe filosofia
latino-americana e no Brasil. Somos capazes de pensar com o mesmo valor
epistemológico que a Europa. A inovação da filosofia latino-americana é o olhar
do outro a partir da perspectiva do outro. A forma de ser e pensar da américa
latina em especial o Brasil é muito frutífero para o mundo filosoficamente
falando. A forma de lidar com o multiculturalismo, a convivência pacífica com
povos e etnias diversas tem revelado ao mundo uma nova maneira de ser da
sociedade. O início do pensamento latino-americano e brasileiro tem a influência
do valor epistemológico europeu, só que não ficamos presos a este valor,
estamos indo além, buscando os nossos próprios caminhos, o que seria fazer uma
filosofia própria.
A Filosofia no Brasil:
No século XX brasileiro
há um significativo volume de produção e publicação de textos de valor
filosófico. Nas primeiras décadas do século XX até 1945 tem-se um rico período
de reflexão sobre a situação e os destinos do país, organização de sua
sociedade e a brasilidade de sua cultura.
A tematização sobre o
nacional, a sociedade brasileira e a brasilidade é realizada em diversos
campos, articuladas a distintas práxis sociais, colocando em questão projetos
para o país, alimentando reflexões no campo da arte, da política e da
elaboração científica.
No campo da estética, na
primeira metade do século XX, o movimento modernista nasce e perdura buscando
uma renovação artístico-formal, identificada com valores autóctones, enraizados
no solo nacional, tematizando assuntos brasileiros e costumes populares. A
Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, divulgarão manifestos diversos
que, resgatando elementos da cultura nacional, apontam para uma transformação
do país.
No campo científico,
com a projeção do positivismo e de seus desdobramentos no último terço do
século XIX, vários objetos de investigação passam a ser tratados com uma
abordagem cientificista. Busca-se, então, explicitar os fundamentos,
lógico-formais e empírico-materiais, do tratamento científico de fenômenos
naturais e sociais. Jornal GGN - Em um experimento conduzido pelo
neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, três macacos conseguiram controlar
um braço virtual.
No início do séc. XX,
no campo político há um vivo debate filosófico entre anarquistas e marxistas
sobre o futuro do Brasil. O liberalismo propagado no Império torna-se agora
ideologia de implantação e manutenção do capitalismo industrial. Debate-se o
socialismo, o anarquismo e o comunismo como alternativas de organização
sócio-econômica nacional.
O período que
transcorre de 1945 a 1964. A filosofia é entendida tanto como totalização do
saber, método, ideia reguladora, arma ofensiva e comunidade de linguagem,
quanto como instrumento que atua para transformar a sociedade nacional
subdesenvolvida e periférica aos centros de decisão. O ISEB, Instituto Superior
de Estudos Brasileiros, que aglutinou diversos pesquisadores em torno de
problemas brasileiros, particularmente o seu desenvolvimento.
O ISEB, Instituto
Superior de Estudos Brasileiro, criado em 1955, era um núcleo de assessoria ao
Governo Federal, subordinado ao Ministério da Educação e Cultura. Tinha como
finalidade ser um centro permanente de estudos políticos e sociais de nível
pós-universitário que tem por finalidade o estudo, o ensino e a divulgação das
ciências sociais, notadamente da sociologia, da história, da economia e da
política, especialmente para o fim de aplicar as categorias e os dados dessas
ciências à análise e compreensão crítica da realidade brasileira visando à
elaboração de instrumentos teóricos que permitam o incentivo e a promoção do
desenvolvimento nacional. O ISEB foi o principal responsável pela elaboração da
estratégia econômica nacional-desenvolvimentista. Com o golpe de 1964 o ISEB é
extinto.
Na segunda metade do
século XX, o marxismo tornou-se no Brasil um forte pólo de atração no campo das
ciências sociais e econômicas. O pensador marxista e comunista militante,
articulando existencialmente teoria e prática, abrindo-se a diversos campos de
reflexão interligados: história, filosofia, economia e política, cujos
trabalhos produzidos, em cada setor, se lastreiam mutuamente.
O pensamento católico –
com sua doutrina social, seu humanismo e engajamento político –, deu base a
teses solidaristas sobre o desenvolvimento econômico brasileiro. Ninguém dúvida
mais que a superação da crise que nos aflige não pode ser procurada na linha de
uma volta ao Capitalismo. Mas igualmente critica o socialismo, compreendido
pelo autor como stalinismo, que, concentrando o poder no Estado e em seus
órgãos políticos de gestão, possibilitou a manipulação de indivíduos e de
grupos sob o exercício centralizado de um poder autoritário. O solidarismo é um
sistema que leva a democracia a suas últimas consequências.
Paulo Freire, já entre
meados da década de 60 a meados da década de 70, defende a "educação numa
perspectiva libertadora", como método de ação transformadora. Mais que uma
pedagogia, Freire desenvolve elementos de uma filosofia da educação. Considerando
a práxis como a relação dinâmica entre prática e teoria, ação e reflexão, mundo
e consciência, em que ambos os pólos se fazem e se refazem continuamente pela
sua relação dialética. A educação libertadora é o procedimento no qual o
educador convida os educandos a conhecer, a desvelar a realidade do modo
crítico.
A filosofia da
libertação, como corrente filosófica específica, elaborando categorias, métodos
e linguagens orientadas à reflexão crítica e realimentação das práxis de
libertação, emerge no final dos anos 60 e início dos anos 70, com diferentes
abordagens paradigmáticas. A Filosofia da Libertação, no contexto da Filosofia
Latino-Americana, constitui uma corrente de pensamento filosófico que busca a
reflexão crítica sobre a opressão do homem, a partir de uma perspectiva
latino-americana.
A elaboração teológica
sobre a ortopraxia de Jesus, é a ênfase na conduta, tanto ética quanto
litúrgica, em oposição à fé ou a graça, desde a qual consideram criticamente a
ortodoxia cristã. A teologia da libertação dará margem a diferentes
interpretações sobre o caráter da ação pastoral, sobre os fundamentos da
elaboração teológica e sua crítica rigorosa, a respeito da ação pastoral. A
Igreja exerce uma eminente função e missão política na medida em que ajuda a
construir o bem comum a partir dos deserdados e a fundamentar uma sociedade
mais igualitária e democrática.
Na perspectiva
dialética, a filosofia política ocupa um lugar central, como uma teoria da
práxis, considerando o espaço social e o tempo histórico, particularmente no
horizonte marxista.
As reflexões
filosóficas e publicações têm contribuído para uma compreensão crítica de
importantes problemas da contemporaneidade brasileira, tem como expoente
Marilena de Souza Chauí.
Nos anos 90 ganha corpo
no Brasil um crescente movimento de economia solidária, centrado na autogestão
de iniciativas econômicas pelos trabalhadores que se integram em fóruns e redes
locais e nacionais, apontando para uma concepção de desenvolvimento
sustentável.
O modo de pensar brasileiro
faz parte de uma reflexão crítica a respeito de nosso modo de existir, de nossa
linguagem, de nossas falsificações existenciais e históricas é que poderemos
chegar aos limites de uma Filosofia nossa. Para tanto, colocar em questão nosso
particular modo de estar e ser, os valores que constituem nosso horizonte
intelectual. E traçar as peripécias do trajeto histórico que nos levou a ser o
que somos.
Referência:
MANCE, Euclides André
- O PENSAMENTO FILOSÓFICO BRASILEIRO E SUA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA NO SÉCULO
XX, 2009.
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