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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Há uma filosofia brasileira ?




Sim, existe filosofia latino-americana e brasileira. Somos capazes de pensar com o mesmo valor epistemológico que a Europa. A inovação da filosofia latino-americana e brasileira é o olhar do outro a partir da perspectiva do outro. A forma de ser e pensar da América Latina em especial o Brasil é muito frutífero para o mundo filosoficamente falando. A forma de lidar com o multiculturalismo, a convivência pacífica com povos e etnias diversas tem revelado ao mundo uma nova maneira de ser da sociedade. O início do pensamento latino-americano e brasileiro tem a influência do valor epistemológico europeu, só que não ficamos presos a este valor, estamos indo além, buscando os nossos próprios caminhos, o que é fazer uma filosofia própria.
         O compromisso da filosofia é referir a problemas universais, eternos, que não podem ser submetidos a determinações geográficas ou temporais. A filosofia enfrenta os grandes problemas que transcendem a preocupação por temas circunstanciais. A filosofia coloca problemas e busca soluções. Por isso, a pergunta sobre a existência ou não existência de uma filosofia latino-americana brasileira parece estranha à filosofia que buscamos.
         Os latino-americanos em especial os brasileiros pretendem ir muito além da dúvida cartesiana. Pois duvida da própria capacidade de pensar, da capacidade de refletir ou filosofar, da própria existência. E é esta dúvida que o move o filosofar. É um filosofar que coloca em questão a capacidade de filosofar. É o filosofar a partir de suas origens.
         Será que a reflexão latino-americana e brasileira é autêntica? Aquilo que é verdadeiro, legítimo, genuíno? Parece que fazer uma filosofia autêntica é o que a reflexão europeia ou ocidental deu origem ao longo de sua história. A inautêntica é a filosofia que surgiu deste lado do atlântico. A reflexão do latino-americano e brasileiro não seria um eco e reflexo de algo que é alheio, que vem de fora? A reflexão latino-americana e brasileira é original? Que parece inventada ou imaginada, sem modelo e tem cunho ou carácter próprio?
Paradoxalmente, aqueles mesmos que negam que o refletir latino-americano possa ser chamado de filosofia, já que não encontram nele nenhuma expressão de um pensamento sistemático semelhante aos produzidos pela filosofia européia, sustentam, igualmente, que a América Latina não produziu nada de original neste campo. Isto é – como se repetissem Hegel – sustentam que o pensamento latino-americano, produzido até agora, foi simples eco e reflexo do pensamento filosófico europeu. Pura e simples imitação do que outros fizeram. (ZEA, p. 6)

         Essa afirmação de inautenticidade pode ser questionada, já que os latino-americanos e brasileiros ao quererem imitar a filosofia europeia fazem outra coisa, a partir de sua própria originalidade. É a nossa realidade que faz expressar os frutos deste novo filosofar. Não podemos dizer que não somos influenciados pela filosofia europeia, o que ocorre é que partimos da filosofia europeia para construirmos o nosso modo de filosofar, somos originais dentro de nossa própria realidade. O que é então a originalidade? Originalidade não é, supostamente, retirar algo do nada. Originalidade é fazer algo distinto do já existente. A partir desta originalidade os latino-americanos e brasileiros são autênticos. A originalidade está na autenticidade da reflexão.
         Ao se perguntar sobre suas próprias carências, sobre a possível existência ou inexistência de uma reflexão, os latino-americanos e brasileiros já estavam, pura e simplesmente, filosofando sobre uma realidade concreta; a realidade concreta desta nossa América.
         A filosofia europeia é séria? Ela está a serviço de uma máscara social. É uma casca normativa que nos vem do exterior e que nos dita o que convém. A filosofia latino-americana e brasileira deve sair do sério, ser uma investigação do avesso da seriedade vigente. Fazer uma filosofia que tente enxergar um palmo à frente do nariz. Buscar a autenticidade intelectual, ser ela mesma.
         A filosofia latino-americana e brasileira tem que ter um compromisso com a práxis de libertação. “Dussel nos alarma de que a filosofia, pode alienar-se facilmente e servir como ideologia de alienação, de manutenção do statusquo.” (Matos apud Dussel) Fazer uma filosofia comprometida é buscar a libertação e criticar ao status-quo que não promove a libertação.
Partidos populares assumiram o poder, mas a crítica interna quase deixou de existir e muitos destes partidos, como no caso do Brasil, alienados do povo, pressionados pelas burguesias, em nome da governabilidade passam a reproduzir mecanismos de dominação, subjugando a maioria de seu povo, servindo ao imperialismo capitalista internacional. (MATOS, p. 1)

         A América Latina deve partir da experiência histórica, a da colonização, a da dependência para pensar uma alternativa, um modo de ser próprio, a partir da própria realidade, sem dependência de modelos estrangeiros. A América Latina pode se auto afirmar, esse é o filosofar latino, buscar resolver os seus próprios problemas por si mesmo. É uma emancipação mental da América Latina. O problema central continua sendo o da consciência da dependência e da necessidade de transcendê-la, de lhe pôr um fim. Uma profunda preocupação da filosofia latino-americano e brasileira de nossos dias está expressa com a designação da filosofia da libertação. Isto é, filosofia preocupada em mostrar os recursos e as novas possibilidades desta libertação, da mesma forma que a anulação de toda expressão de dependência. Conhecer, e assimilar, qualquer nova expressão da filosofia de outros povos e homens, porém sempre em função das necessidades de nossos povos e homens. Buscando, não a universalidade pela via da imitação, mas a universalidade desde que nossos problemas e soluções possam ser os problemas e soluções de outros homens e povos. Assim torna-se possível fazer filosofia em toda América Latina em especial no Brasil.
Referência:
ZEA, Leopoldo. Filosofia Latino-americana. Tradução: Nasser Kassem Hammad.
MATOS, Hugo Allan. Reflexões sobre Filosofia como compromisso e práxis de Libertação



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