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quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O Logos princípio posterior ao movimento !




         O Logos é o princípio posterior ao movimento, formula o pensamento através de enunciados legitimando o seu sentido e sua validade. Anteriormente o nada existia, por um ato do SER existiu a ação, do movimento se fez a luz, que para ser compreendida precisa do Logos. A realidade passou a existir e para ser apreendida utiliza-se do Logos como um instrumento de especulação.
         Surgem a natureza e a linguagem, segundo Wittgenstein, “a tentativa de acessar e descrever estados de coisas e compreender os jogos que produzimos para compreendê-los”. Captamos e entendemos os eventos a partir da explicação das proposições.
         O realismo é como as coisas são. O nominalismo é a nomeação das coisas. Existe uma inverdade que cria a confusão, a má compreensão da realidade ao tentar nomear a própria realidade. Na busca pelo saber a partir da verdade somos capazes de criar a própria realidade a partir da nomeação das coisas.
         A modernidade faz uma crítica entre a linguagem e a forma como vemos o mundo, a realidade percebida pode estar muito distante da realidade de fato. E assim, perguntamos: Onde está a verdade? No seu sentido metafísico de SER, conforme os antigos, algo já dado e inalcançável na sua totalidade. Ou conforme os modernos, algo que existe, que não podemos acessar, apenas perceber o fenômeno oriundo desta realidade.
         Para Wittgenstein, “toda meditação filosófica fora dos domínios da linguagem é uma espécie de sonambulismo reflexivo”. A questão é: A linguagem tem o poder de circunscrever a meditação filosófica? Onde fica a estética? A pintura, a escultura, a arquitetura, a música, a arte expressa sem o uso do Logos? Que faz o Homem pensar, sentir, perceber, compreender a realidade que o circunda, de forma muito mais original e única, demonstrando o quanto o Homem é um singular existencial.
         A filosofia está muito além dos limites da razão, pelo sentimento conhecemos aquilo que não podemos expressar em palavras, mas que faz parte da nossa existência emitem movimentos que dão sentido a vida e possibilita a continuidade da caminhada. Se nascemos e somos catapultados no mundo, também somos capazes de tomar o controle da nossa existência e construir a própria história de forma original.
         O Homem é o ente que faz parte do movimento criado pelo SER, e conhece o mundo a partir da revelação expressa pelo Logos, e amplia sua apreensão da vida com o filosofar que vai muito além da linguagem, presente na arte em sua forma estética. A compreensão das coisas se passa pela razão e sentimentos, que falam ao Homem tudo que é possível ser compreendido, mesmo que não seja em sua totalidade, mas na parcialidade capaz de tornarmos reflexo do SER.
         O Logos além de tornar o Homem um ente racional, e também sensível, com um olhar holístico que busca a verdade e a compreensão do indecifrável, percebido e incapaz de ser negado. Faz o Homem criar a sua própria realidade a partir da realidade real. E dominar as ciências, a natureza, os seres vivos e estar no topo da cadeia alimentar.
         A questão é saber o quanto estamos próximos da verdade, da realidade real, pois criamos uma realidade questionável, que aponta para desiquilíbrios, que comprometem e põe em risco a nossa própria existência. O Homem deve refazer a sua apreensão do Logos e filosofar para além dos limites da linguagem, usar da arte de forma estética para reconstruir a sua própria realidade e torna-la mais próximo da verdade, do SER, que tudo criou a partir do movimento.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Educação e a Microfísica do Poder !




Após uma análise dos textos do filósofo Michel Foucault e de seus comentadores, com o objetivo da aplicação de seus conceitos na realidade educacional brasileira. Sob um enfoque crítico, tem o propósito de conscientizar o leitor da importância do papel do educador para com o educando na sala de aula. Questões são levantadas apontando desafios a serem superados, ao evidenciar a dura realidade de uma classe social dominada por um discurso de poder da classe dominante. A significante contribuição está em tratar a educação como um problema a ser resolvido pela filosofia, ou seja, a educação no Brasil deve ser tratada como um problema filosófico, para construirmos uma sociedade mais justa e virtuosa.
O estudo se justifica porque propõe a fazer uma discussão sobre a transformação consciente do processo de ensino. Assim, dependendo da forma com que a microfísica do poder e as formas de vigilância e punição são operacionalizadas na sala de aula, o aluno pode ser cerceado, e sua criatividade pode sofrer limitação, o que empobrece o processo da construção do saber e inibe o desenvolvimento humano. Aprender é um trabalho de criação, de produtividade, de tirar sentido daquilo que precisa ser interpretado.
Em Foucault, o conceito de sujeito é central no campo da educação, na microfísica do poder, o sujeito é produzido e está, constantemente, sendo redefinido pelos cruzamentos disciplinares e discursivos. Pelo uso do discurso e da palavra o sujeito se submete a um poder que não tem rosto.
Existem formas históricas de sujeitos e formas históricas de educação. Cientificamente podemos estar no limiar da descoberta de um novo sujeito, que está em constante transformação, que não apenas recebe a informação de um centro de poder, o professor, a instituição educacional, o Estado, mas que também emite sua forma de conhecimento e aprendizagem, por estar conectado e atuando em rede.
Todo saber é político e tem sua gênese em relações de poder. Saber e poder se implicam mutuamente, não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder. Por isso, as instituições de ensino têm um papel importantíssimo, podem transformar ou reproduzir o modelo vigente, legitimando o poder existente. Todo ponto de exercício do poder é, ao mesmo tempo, um lugar de formação de saber. E, em contrapartida, todo saber assegura o exercício de um poder.
Podemos viver a margem do poder opressor, e escolher novas formas de viver, com base no nosso conhecimento. Trata-se de uma forma de libertação para uma vida mais plena.
Assim, entendo que a FAPCOM | Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação é uma ilha no mar subjetivado pelo poder vigente, ou seja, como proposta busca formar um sujeito consciente de sua realidade, preparado para atuar na sociedade, um livre pensador.
“Talvez o objetivo hoje em dia não seja descobrir o que somos, mas recusar o que somos. Temos que imaginar e construir o que poderíamos ser.” (FOUCAULT)


segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Há uma filosofia brasileira ?




Sim, existe filosofia latino-americana e brasileira. Somos capazes de pensar com o mesmo valor epistemológico que a Europa. A inovação da filosofia latino-americana e brasileira é o olhar do outro a partir da perspectiva do outro. A forma de ser e pensar da América Latina em especial o Brasil é muito frutífero para o mundo filosoficamente falando. A forma de lidar com o multiculturalismo, a convivência pacífica com povos e etnias diversas tem revelado ao mundo uma nova maneira de ser da sociedade. O início do pensamento latino-americano e brasileiro tem a influência do valor epistemológico europeu, só que não ficamos presos a este valor, estamos indo além, buscando os nossos próprios caminhos, o que é fazer uma filosofia própria.
         O compromisso da filosofia é referir a problemas universais, eternos, que não podem ser submetidos a determinações geográficas ou temporais. A filosofia enfrenta os grandes problemas que transcendem a preocupação por temas circunstanciais. A filosofia coloca problemas e busca soluções. Por isso, a pergunta sobre a existência ou não existência de uma filosofia latino-americana brasileira parece estranha à filosofia que buscamos.
         Os latino-americanos em especial os brasileiros pretendem ir muito além da dúvida cartesiana. Pois duvida da própria capacidade de pensar, da capacidade de refletir ou filosofar, da própria existência. E é esta dúvida que o move o filosofar. É um filosofar que coloca em questão a capacidade de filosofar. É o filosofar a partir de suas origens.
         Será que a reflexão latino-americana e brasileira é autêntica? Aquilo que é verdadeiro, legítimo, genuíno? Parece que fazer uma filosofia autêntica é o que a reflexão europeia ou ocidental deu origem ao longo de sua história. A inautêntica é a filosofia que surgiu deste lado do atlântico. A reflexão do latino-americano e brasileiro não seria um eco e reflexo de algo que é alheio, que vem de fora? A reflexão latino-americana e brasileira é original? Que parece inventada ou imaginada, sem modelo e tem cunho ou carácter próprio?
Paradoxalmente, aqueles mesmos que negam que o refletir latino-americano possa ser chamado de filosofia, já que não encontram nele nenhuma expressão de um pensamento sistemático semelhante aos produzidos pela filosofia européia, sustentam, igualmente, que a América Latina não produziu nada de original neste campo. Isto é – como se repetissem Hegel – sustentam que o pensamento latino-americano, produzido até agora, foi simples eco e reflexo do pensamento filosófico europeu. Pura e simples imitação do que outros fizeram. (ZEA, p. 6)

         Essa afirmação de inautenticidade pode ser questionada, já que os latino-americanos e brasileiros ao quererem imitar a filosofia europeia fazem outra coisa, a partir de sua própria originalidade. É a nossa realidade que faz expressar os frutos deste novo filosofar. Não podemos dizer que não somos influenciados pela filosofia europeia, o que ocorre é que partimos da filosofia europeia para construirmos o nosso modo de filosofar, somos originais dentro de nossa própria realidade. O que é então a originalidade? Originalidade não é, supostamente, retirar algo do nada. Originalidade é fazer algo distinto do já existente. A partir desta originalidade os latino-americanos e brasileiros são autênticos. A originalidade está na autenticidade da reflexão.
         Ao se perguntar sobre suas próprias carências, sobre a possível existência ou inexistência de uma reflexão, os latino-americanos e brasileiros já estavam, pura e simplesmente, filosofando sobre uma realidade concreta; a realidade concreta desta nossa América.
         A filosofia europeia é séria? Ela está a serviço de uma máscara social. É uma casca normativa que nos vem do exterior e que nos dita o que convém. A filosofia latino-americana e brasileira deve sair do sério, ser uma investigação do avesso da seriedade vigente. Fazer uma filosofia que tente enxergar um palmo à frente do nariz. Buscar a autenticidade intelectual, ser ela mesma.
         A filosofia latino-americana e brasileira tem que ter um compromisso com a práxis de libertação. “Dussel nos alarma de que a filosofia, pode alienar-se facilmente e servir como ideologia de alienação, de manutenção do statusquo.” (Matos apud Dussel) Fazer uma filosofia comprometida é buscar a libertação e criticar ao status-quo que não promove a libertação.
Partidos populares assumiram o poder, mas a crítica interna quase deixou de existir e muitos destes partidos, como no caso do Brasil, alienados do povo, pressionados pelas burguesias, em nome da governabilidade passam a reproduzir mecanismos de dominação, subjugando a maioria de seu povo, servindo ao imperialismo capitalista internacional. (MATOS, p. 1)

         A América Latina deve partir da experiência histórica, a da colonização, a da dependência para pensar uma alternativa, um modo de ser próprio, a partir da própria realidade, sem dependência de modelos estrangeiros. A América Latina pode se auto afirmar, esse é o filosofar latino, buscar resolver os seus próprios problemas por si mesmo. É uma emancipação mental da América Latina. O problema central continua sendo o da consciência da dependência e da necessidade de transcendê-la, de lhe pôr um fim. Uma profunda preocupação da filosofia latino-americano e brasileira de nossos dias está expressa com a designação da filosofia da libertação. Isto é, filosofia preocupada em mostrar os recursos e as novas possibilidades desta libertação, da mesma forma que a anulação de toda expressão de dependência. Conhecer, e assimilar, qualquer nova expressão da filosofia de outros povos e homens, porém sempre em função das necessidades de nossos povos e homens. Buscando, não a universalidade pela via da imitação, mas a universalidade desde que nossos problemas e soluções possam ser os problemas e soluções de outros homens e povos. Assim torna-se possível fazer filosofia em toda América Latina em especial no Brasil.
Referência:
ZEA, Leopoldo. Filosofia Latino-americana. Tradução: Nasser Kassem Hammad.
MATOS, Hugo Allan. Reflexões sobre Filosofia como compromisso e práxis de Libertação



sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Existe Filosofia Latino-americana ?




Sim, existe filosofia latino-americana e brasileira. Somos capazes de pensar com o mesmo valor epistemológico que a Europa. A inovação da filosofia latino-americana é o olhar do outro a partir da perspectiva do outro. A forma de ser e pensar da América Latina em especial o Brasil é muito frutífero para o mundo filosoficamente falando. A forma de lidar com o multiculturalismo, a convivência pacífica com povos e etnias diversas tem revelado ao mundo uma nova maneira de ser da sociedade. O início do pensamento latino-americano e brasileiro tem a influência do valor epistemológico europeu, só que não ficamos presos a este valor, estamos indo além, buscando os nossos próprios caminhos, o que é fazer uma filosofia própria.
O grego, o latino, o inglês, o francês, ou o alemão praticam a filosofia a partir de sua origem concreta. Sem que esta origem tenha sido objeto de alguma preocupação. [...] Por que, então, os latino-americanos nos vemos forcados a iniciar o nosso filosofar, colocando-nos o problema de se tal filosofar é latino-americano? (ZEA, p. 1)

         A filosofia se refere a problemas universais, eternos, não pode ser submetida a determinações geográficas ou temporais. A filosofia enfrenta os grandes problemas que transcendem a preocupação por temas circunstanciais. A filosofia se coloca problemas e busca soluções. Por isso, a pergunta sobre a existência ou não existência de uma filosofia latino-americana parece estranha à filosofia que buscamos.
         Os latino-americanos pretendem ir muito além da dúvida cartesiana. Pois duvida da própria capacidade de pensar, da capacidade de refletir ou filosofar, da própria existência. E é esta dúvida que o move o filosofar. É um filosofar que coloca em questão a capacidade de filosofar. É o filosofar a partir de suas origens.
Porém, estamos duvidando realmente de nossa capacidade de pensar? Ou simplesmente estamos duvidando de um modo de pensar que parece não coincidir com outro modo de pensar, o qual qualificarmos de filosofia autêntica? Isto é, não estamos, por acaso, partindo de um determinado pressuposto, o do que deve ser considerado como filosofia? Porque é inegável que, ao fazermos perguntas sobre a possível existência de uma filosofia latino-americana, já estamos, de uma ou de outra maneira, pensado, refletindo, filosofando. Salvo se considerarmos que este pensar, refletir ou filosofar não seja filosofia. Ou ao menos não seja o que se considera como autêntica filosofia. (ZEA, p. 2)

         Os filósofos nunca se preocuparam em saber se o que estavam fazendo era ou não filosofia. A interrogação sobre a existência de uma filosofia latino-americana é estranha a uma filosofia autêntica, porque nunca antes os filósofos se haviam colocado tal problema com respeito à origem espacial e temporal de tal filosofar.
                  Será que a reflexão latino-americana é autêntica? Aquilo que é verdadeiro, legítimo, genuíno? Parece que fazer uma filosofia autêntica é o que a reflexão europeia ou ocidental deu origem ao longo de sua história. A inautêntica é a filosofia que surgiu deste lado do atlântico. A reflexão do latino-americano não seria um eco e reflexo de algo que é alheio, que vem de fora? A reflexão latino-americana é original? Que parece inventada ou imaginada, sem modelo e tem cunho ou carácter próprio?
Paradoxalmente, aqueles mesmos que negam que o refletir latino-americano possa ser chamado de filosofia, já que não encontram nele nenhuma expressão de um pensamento sistemático semelhante aos produzidos pela filosofia européia, sustentam, igualmente, que a América Latina não produziu nada de original neste campo. Isto é – como se repetissem Hegel – sustentam que o pensamento latino-americano, produzido até agora, foi simples eco e reflexo do pensamento filosófico europeu. Pura e simples imitação do que outros fizeram. (ZEA, p. 6)

         Essa afirmação de inautenticidade pode ser questionada, já que os latino-americanos ao quererem imitar a filosofia europeia fazem outra coisa, a partir de sua própria originalidade. É a nossa realidade que faz expressar os frutos deste novo filosofar. Não podemos dizer que não somos influenciados pela filosofia europeia, o que ocorre é que partimos da filosofia europeia para construirmos o nosso modo de filosofar, somos originais dentro de nossa própria realidade. O que é então a originalidade? Originalidade não é, supostamente, retirar algo do nada. Originalidade é fazer algo distinto do já existente. A partir desta originalidade os latino-americanos são autênticos. A originalidade está na autenticidade da reflexão.
         Ao se perguntar sobre suas próprias carências, sobre a possível existência ou inexistência de uma reflexão, os latino-americanos já estavam, pura e simplesmente, filosofando sobre uma realidade concreta; a realidade concreta desta nossa América.
Nosso pensamento, reflexão ou filosofia será, precisamente, expressão da tomada de consciência desta situação. Será a consciência da dependência o que deu origem a essa estranha reflexão sobre a qual inquirimos se pode ou não ser chamada de filosofia. Interrogação que já é, em si, expressão de uma situação de dependência da qual os latino-americanos tomaram consciência. Interrogação que está animada pela preocupação que se impôs aos homens da América para que se assemelhassem a seus colonizadores. Isto é, os homens da América não serão considerados homens, se não adquirirem as supostas qualidades de que fazem gala seus colonizadores. Só o serão quando se assemelharem plenamente a eles. Quando forem cópia de seus senhores. Senhores modelo, arquétipo do humano por excelência. Não é esta por acaso a preocupação de quem pergunta sobre se temos, ou não, uma filosofia própria? E o pergunta em relação a um certo modelo de refletir filosófico? Se afirma que refletiremos filosoficamente só na medida em que este nosso refletir se assemelhe ao refletir dos filósofos que deram origem ao que se considera a filosofia por excelência. (ZEA, p. 13)

         No séc. XIX os latino-americanos buscavam uma ordem libertária que substituísse a ordem colonial. O objetivo era mudar a sociedade e mudar o homem. A política e as relações sociais foram os primeiros problemas a serem enfrentados. Uma nova ordem sobre o signo da liberdade e de homens que mudassem a herança colonial que foi imposta a suas mentes, por uma nova concepção do homem e da sociedade que torne possível o regime de liberdade. A emancipação mental havia de se expressar como reeducação dos latino-americanos. Educar para a liberdade foi à meta de pensadores latino-americanos. Só que esta liberdade almejada pode ser questionada, o modo de ser da América Latina reflete a situação de dependência na forma de pensar a vida e buscar a independência e o progresso
Será a partir da consciência da inferioridade, da própria realidade, da própria história, da própria formação histórica e étnica, e da consciência da superioridade das nações que formam o chamado mundo ocidental, que se irá tecendo a trama de uma nova subordinação, de uma nova dependência e servilismo. [...] Civilização é ser como as grandes nações adiantadas do progresso. Barbárie é o modo de ser próprio dos latino-americanos, originado da herança que a colonização ibérica havia deixado na América. Barbárie era o índio, o crioulo, a mescla com raças inferiores. (ZEA, p. 19)

         Ou seja, o homem latino influenciado pelo positivismo, com seus traços, sua forma de ser estava em cheque. Deduzida e aceita a inferioridade da América Latina e sua cultura, assim como a superioridade dos povos europeus, no velho e no novo continente, ficava também deduzido o papel que há de ter a América Latina dentro do âmbito do progresso. Um progresso que só havia de vir pela assimilação racial, cultural e social dos povos que encarnavam o progresso. A América Latina havia caído em uma armadilha filosófica que justificava novas formas de dependência. A experiência do filosofar no século XIX na América Latina não foi benéfica para seu povo.
         Do único passado que a América Latina tem da única história e realidade que são próprias. A América Latina deve partir dessa experiência histórica, a da colonização, a da dependência para pensar uma alternativa, um modo de ser próprio, a partir da própria realidade, sem dependência de modelos estrangeiros. A América Latina pode se auto afirmar, esse é o filosofar latino, buscar resolver os seus próprios problemas por si mesmo. É uma emancipação mental da América Latina. O problema central continua sendo o da consciência da dependência e da necessidade de transcendê-la, de lhe pôr um fim. Uma profunda preocupação da filosofia latino-americano de nossos dias está expressa com a designação da filosofia da libertação. Isto é, filosofia preocupada em mostrar os recursos e as novas possibilidades desta libertação, da mesma forma que a anulação de toda expressão de dependência. Conhecer, e assimilar, qualquer nova expressão da filosofia de outros povos e homens, porém sempre em função das necessidades de nossos povos e homens. Buscando, não a universalidade pela via da imitação, mas a universalidade desde que nossos problemas e soluções possam ser os problemas e soluções de outros homens e povos. Assim torna-se possível fazer filosofia em toda América Latina.

Referência:
ZEA, Leopoldo. Filosofia Latino-americana. Tradução: Nasser Kassem Hammad.