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terça-feira, 29 de novembro de 2016

Analíticos Posteriores ! (O Conhecimento)




         De onde vem o conhecimento? O conhecimento já está dado? O conhecimento preexiste? Segundo as convicções de Aristóteles, “Todo o ensino e toda a instrução intelectual procedem de conhecimento pré-existente [...] O mesmo ocorre com os argumentos lógicos.” (ARISTÓTELES, 2010, p. 251) Ou seja, o Homem torna-se sábio na medida em que o conhecimento é revelado para si mesmo, e qual é o esforço intelectual que o Homem faz?
         O Homem formula premissas a partir de fatos já conhecidos, levanta hipóteses, demonstrando o universal a partir da natureza auto evidente do particular, que vêm a conceber os paradigmas.
         O conhecimento prévio é necessário para supor antecipadamente o fato. Uma das formas de obtermos conhecimento é pela demonstração, ao se entender o silogismo científico, podemos compreender alguma coisa pelo mero fato de apreendê-la.
         O conhecimento é o que supomos que seja, já o conhecimento demonstrativo procede de premissas que sejam verdadeiras, primárias, imediatas, melhor conhecidas e anterior à conclusão, que sejam causa desta. O silogismo é possível sem tais condições, já a demonstração não é possível, pois o resultado não será conhecimento.
         As premissas têm que ser proposições verdadeiras, se não é impossível conhecer o que é contrário ao fato. Conhecer o que é suscetível de demonstração, e ter do conhecimento a demonstração; tem que ser causais, melhor conhecidas e anteriores.
Causais porque só dispomos de conhecimento de uma coisa quando conhecemos sua causa, anteriores na medida em que são causais e já conhecidas, não meramente no sentido de que seu significado é entendido, mas também no sentido de que são conhecidas factualmente. (ARISTÓTELES, 2010, p. 254)

            O primeiro princípio de uma demonstração é uma premissa imediata, e uma premissa imediata é aquela que não tem nenhuma outra premissa anterior a ela.
Chamo de tese o primeiro princípio imediato e indemonstrável de um silogismo cuja apreensão é desnecessária à aquisição de certos gêneros de conhecimento; mas aquele que necessita ser apreendido chamo de axioma, pois há, com efeito, certas coisas desta natureza e estamos habituados a designá-las especialmente com este nome. (ARISTÓTELES, 2010, p. 254)

         A condição para o nosso conhecimento ou convicção de um fato é a apreensão de um silogismo do tipo demonstrativo. O silogismo depende da verdade de suas premissas. Conhecer de antemão as premissas primárias melhor do que a conclusão. Pois as premissas primárias são a causa de nosso conhecimento e convicção.
         Se alguém possui o conhecimento que é produzido pela demonstração, tem que reconhecer e crer nos primeiros princípios, mais do que aquilo que está sendo demonstrado. Ou seja, para se chegar ao conhecimento é exigido um ato de fé nos primeiros princípios.
         Para conhecer tem que crer, tem que ter fé, tem que constituir dogmas, opinião explicitamente formulada como verdadeira. O que se pensa é verdade. Na antiguidade, entendia-se como uma crença ou convicção, um pensamento firme ou doutrina.
         Podemos dizer que a ciência demonstrativa é dogmática, porque afirma o que pensa que é verdade, partindo de princípios definidos por um ato de fé. O ato de crer é o primeiro passo para o conhecimento, depois tudo mais se é revelado. O conhecimento vem da fé, o conhecimento é dado a partir da fé, o conhecimento preexistente é acessado por um ato de fé.
         Se fizermos uma reflexão sobre a ciência contemporânea a partir da metafísica grega, o conhecimento científico dogmático constitui uma forma de religião, capaz de religar o Ente ao SER através do conhecimento, da verdade. São formuladas doutrinas científicas que ensinam, indicam, apontam alguma coisa, instruem e educam o Homem. E afirmam a capacidade de nossa mente, da nossa intelectualidade, para alcançar a verdade no problema crítico.
         A questão é: A verdade se revelada, ou é revela pela capacidade intelectual do Homem? De onde parte a verdade?
Referência:
ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores, Analíticos posteriores, Tópicos, Refutações Sofísticas / tradução, textos adicionais e notas Edson Bini / Bauru, SP: EDIPRO, 2ª ED., 2010.




quinta-feira, 17 de novembro de 2016

O Conceito de Esclarecimento !




         O objetivo do esclarecimento é proporcionar o progresso do pensamento, livrar os homens do medo e tornar os homens senhores de si. Os mitos se dissolvem e a imaginação é substituída por saber. Tal saber que gerou a ciência, a guerra e as finanças, no comércio e na navegação. O homem se faz superior pelo saber, mas imersos em conflitos e contradições.
         O saber é poder, não tem fronteiras, se coloca a serviço da economia burguesa na fábrica e no campo de batalha, à disposição dos empresários. Desenvolvem-se métodos para a utilização do trabalho e do capital. O homem faz todo esforço para aprender da natureza como empregá-la para dominá-la completamente e aos homens.
         O esclarecimento se faz no momento em que o homem submete ao critério da calculabilidade e da utilidade o domínio da matéria. O que não se pode submeter torna-se suspeito para o esclarecimento. O esclarecimento torna-se totalitário por adotar o princípio da racionalidade.
         Os mitos se desfazem com o esclarecimento e o mundo é submetido ao domínio dos homens. O homem se percebe poderoso e há uma separação de Deus e dos homens. “Enquanto soberanos da natureza, o deus criador e o espírito ordenador se igualam. A imagem e semelhança divinas do homem consistem na soberania sobre a existência, no olhar do senhor, no comando”. (ADORNO, 1985, p. 21)
         O homem de ciência conhece as coisas na medida em que se pode fazê-las. É o surgimento do mito da ciência e tecnologia, o uso da razão de forma metodológica e racional para um fim, e assim se obter um resultado. Assim, o mito converte-se em esclarecimento, e a natureza em mera objetividade. O homem paga o preço pelo seu aumento de poder ao se alienar daquilo sobre o que exerce poder. Um exemplo são os modelos racionais e tecnológicos que trouxeram mais eficiência para o mundo do trabalho. O homem já não domina o seu ofício, não conhece na totalidade o trabalho, ele é apenas uma engrenagem de um grande sistema. O homem deixou de ter a importância central para se fragmentar em várias partes do processo de produção de um bem ou serviço. Assim, o homem se coisifica, pode ser trocado, substituído, descartado quando não apresenta mais utilidade por se tornar obsoleto com a evolução tecnológica. Não há uma ética da ciência, da tecnologia, da racionalidade que dê maior importância para o homem. O trabalho deixa de estar a serviço do homem, para o homem estar a serviço do trabalho. Esse é um dos efeitos da lógica vigente para o uso da ciência e da tecnologia, que é ser cada vez mais eficiente, para ser mais eficaz. Ou seja, o sentido útil de algo está na capacidade de gerar resultado.
         O homem ao ter a confiança inabalável na possibilidade de dominar o mundo através da ciência e tecnologia, não define limites para as suas ações, tudo pode, tudo é permitido desde que seja útil. A questão é: Útil em que espaço de tempo? Quais são as consequências desse tipo de comportamento? A preservação da vida não seria o limite ético para o uso da tecnologia? O que o homem está matando a logo prazo?
         O homem está alienado do mundo, já não se percebe como parte integrante da vida no planeta terra, pela crença inabalável das possibilidades tecnológicas proporcionadas pela ciência. O planeta morre mais a cada ano e a logo prazo o homem morrerá também, sua passagem pela terra será contada pelas ruínas deixadas.
         O pensamento do homem tornou algo coisificado, já não se pensa o pensamento. “A dominação da natureza traça o círculo dentro do qual a Crítica da Razão Pura baniu o pensamento. [...] Não há nenhum ser no mundo que a ciência não possa penetrar, mas o que poder ser penetrado pela ciência não é o ser.” (ADORNO, 1985, p. 33) É a redução do pensamento a uma máquina, que confirma o mundo a sua própria medida. É o triunfo da racionalidade objetiva, submissão de todo ente ao formalismo lógico, é a subordinação da razão ao imediatamente dado.         O conhecer está em cheque, como seremos esclarecidos, se está imposta uma única forma de conhecer? A clareza da forma científica.
         O homem deve escolher em se submeter-se à natureza ou submeter à natureza ao eu. É uma medida de autoconservação ou autodestruição, é a tentativa do eu de sobreviver a si mesmo. “O medo de perder o eu e o de suprimir com o eu o limite entre si mesmo e a outra vida, o temor da morte e da destruição, está imanado a uma promessa de felicidade, que ameaçava a cada instante a civilização.” (ADORNO, 1985, p. 39)
         O homem se adaptou ao poder do progresso, o gerou o progresso do poder. Uma maldição do progresso irrefreável que gerou a irrefreável regressão. Fazendo da aparelhagem social, econômica e científica estarem a serviço de um capitalismo neoliberal, que não vê limite ético para sua expansão através do uso da ciência e tecnologia, apenas quer maximizar o resultado financeiro.

Referência Bibliográfica:
ADORNO, Theodor W., Dialética do esclarecimento fragmentos filosóficos / Theodor W. Adorno, Max Horkheimer; tradução, Guido Antonio de Almeida. – Rio de Janeiro: Zahar, 1985.



quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Sobre a Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral !





         § 1
         Para Nietzsche, o minuto mais soberbo e mentiroso da história foi quando animais inteligentes, localizados em um astro, inventaram o conhecimento. O intelecto humano dentro da natureza, para ele, é algo lamentável, fantasmagórico, fugaz, sem finalidade e gratuito. “Houve eternidades, em que ele não estava; quando de novo ele tiver passado, nada terá acontecido. Pois não há para aquele intelecto nenhuma missão mais vasta, que conduzisse além da vida humana”. (NIETZSCHE, 1974, p. 53) O filósofo é aquele que pensa, tem um olhar sobre seu agir e pensar a partir do universo.
         O intelecto humano é capaz disso, feito para auxiliar o ser humano, mais infeliz, delicado e perecível dos seres, e assim firma a sua existência. É algo que nos diferencia de um animal comum, a capacidade intelectual do ser humano possibilita a conservação do indivíduo, o disfarça na luta pela existência com animais que têm chifres ou presas aguçadas.
         O homem utiliza da arte do disfarce e alcança o seu ápice, ele engana, lisonjeia, mente, ludibria, fala por trás das costas, representa, vive uma glória emprestada, mascara-se conforme convenção dissimulante, faz o jogo teatral diante de si mesmo, alimenta sua vaidade, o que faz parecer um honesto e puro impulso à verdade. Ou seja, constrói a sua maneira a forma de se viver em sociedade. Imerso em ilusões e imagens de sonho, vive a partir de estímulos uma sensação que não conduz à verdade, mas contenta-se em receber estímulos.
         O que sabe o homem sobre si? Ele permite que seu sonho lhe minta, sem que seu sentido moral impeça este ato. “Sim, seria ele sequer capaz de alguma vez perceber-se completamente, como se tivesse em uma vitrina iluminada? ”. (NIETZSCHE, 1974, p. 53) Então de onde vem o impulso à verdade?
         Os homens não procuram evitar serem enganados, ou prejudicados pelo engano. Odeiam as consequências nocivas, hostis, de certas espécies de ilusões. O homem quer a verdade, deseja as consequências da verdade que são agradáveis e conservam a vida. É a afirmação da vida.
         O que é a palavra? Uma imagem modelada em um son, uma metáfora. “Acreditamos saber algo das coisas mesmas, se falamos de árvores, cores, neve e flores, e no entanto não possuímos nada mais do que metáforas das coisas, que de nenhum modo correspondem às entidades de origem”. (NIETZSCHE, 1974, p. 55) Toda palavra vira conceito quando convém a um cem números de casos, mais ou menos semelhantes, nunca iguais, podendo haver casos desiguais. O conceito nasce da igualação do não igual.
         O que é verdade, portanto?
Um batalhão móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismo, enfim, uma soma de relações humanas, que foram enfatizadas poética e retoricamente, transpostas, enfeitadas, e que, após longo uso, parecem a um povo sólidas, canônicas e obrigatórias: as verdades são ilusões, das quais se esqueceu que o são, metáforas que se tornaram gastas e sem força sensível, moedas que perderam sua efígie e agora só entram em consideração como metal, não mais como moedas. (NIETZSCHE, 1974, p. 56)

         Ainda não sabemos de onde vem o impulso à verdade. O que sabemos é da obrigação da sociedade de existir, estabelecer-se. E dizer a verdade é usar de metáforas, expressas moralmente. E quando se mente utiliza-se uma convenção sólida, menti em rebanho, em um estilo obrigatório para todos. Menti de maneira designada, inconscientemente e segundo hábitos seculares. E justamente pela inconsciência e esquecimento, chega ao sentimento da verdade.
         O homem luta por um entendimento do mundo como uma coisa a partir do próprio homem. “Seu procedimento consiste em tomar o homem por medida de todas as coisas. [...] Esquece, pois, as metáforas intuitivas de origem, como metáforas, e as toma pelas coisas mesmas”. (NIETZSCHE, 1974, p. 58)
         § 2
         O homem é propenso a deixar-se enganar. Copia a vida humana, toma-a como uma coisa boa e se dá como satisfeito. O homem fala em metáforas, em arranjos conceituais, constrói as suas verdades. Por conceitos e abstrações se defende da infelicidade, e conquista uma felicidade para si mesmo e luta para se libertar da dor. Por motivos irracionais sofre e não aprende com a experiência, por continuar a cometer os mesmos erros. E para Nietzsche o homem diferente é:
Como é diferente, sob o mesmo infortúnio, o homem estoico instruído pela experiência e que se governa por conceitos! Ele, que de resto só procura retidão, verdade, imunidade a ilusões, proteção contra as tentações de fascinação, desempenha agora, na infelicidade, a obra-prima do disfarce, como que uma máscara com digno equilíbrio de traços, não grita nem sequer altera a voz: se uma boa nuvem de chuva se derrama sobre ele, ele se envolve em seu manto e parte a passos lentos, debaixo dela. (NIETZSCHE, 1974, p. 60)

         Este é o homem do mundo, que para afirmar a vida faz o uso da verdade, mesmo que esta verdade seja metafórica e seja uma mentira. Pois o homem vive em um mundo que foi nomeado por si, na essência não o conhece. Para designá-lo faz o uso de palavras, que tem a sua origem em metáforas, capazes apenas de expressar o pensamento humano, jamais a verdade em si mesmo, pois o mundo está muito além da compreensão humana. O homem é parte do mundo, e o mundo não é uma representação do homem, o homem só é capaz de: a partir do mundo, dizer o que é o mundo metaforicamente e dar sentido para si mesmo. Ou seja, fazer aquilo que é necessário para afirmar a sua própria existência.

Referência Bibliográfica:
NIETZSCHE, Friedrich. Obras Incompletas – Seleção de textos de Gérard Lebrun / Tradução e notas de Rubens Rodrigues Torres Filho, Abril Cultural, São Paulo, 1ª edição, 1974.


terça-feira, 15 de novembro de 2016

A Decadência do Capitalismo !




         No programa da GloboNews em Que Mundo é Esse, revela os efeitos da crise do capitalismo, o documentário se chama: Um retrato das cidades americanas decadentes.
         O capitalismo está em crise, hoje existem aproximadamente 15 trilhões de dólares aplicados a taxas de juros negativas. Ou seja, não há destinação para todo esse capital.
         Os detentores do capital não se sentem confortáveis e confiantes com o atual cenário previsto para a humanidade. Como se não houvesse lugar no mundo viável para realizar investimento e obter uma taxa de retorno justa.
         Não seria uma crise de fé, de esperança, de confiança para com o futuro? Ou uma ambição sem parâmetros éticos e morais? Houve um tempo em que as pessoas investiam em um projeto porque achavam importante gerar renda, trabalho e riqueza, e tudo acontecia no seu tempo devido, sem sofrer a pressão das bolsas de valores.
         Com a financeirização da economia perderam-se os aspectos políticos e sociais que promovem o desejo se investir. O capital deixou de ser um meio, para estar centrado em si mesmo, está no centro, é o princípio fundante do capitalismo. O Homem está marginalizado, é uma coisa a ser usada pelo capital.
         Até quando a sociedade contemporânea conviverá com este tipo de paradigma? Não haverá uma alternativa nascendo dos escombros da sociedade capitalista? Detroit talvez seja uma referência para os tempos vindouros, onde haverá uma sociedade mais colaborativa, humana, que torne a colocar a existência do Homem no seu devido lugar, com a sua devida importância. “Talvez o objetivo hoje em dia não seja descobrir o que somos, mas recusar o que somos. Temos que imaginar e construir o que poderíamos ser.” (FOUCAULT, 1995, p.239)
Referência Bibliográfica:
         FOUCAULT, Michel. O sujeito e o poder. In:  DREYFUS, Hubert; RABINOW, Paul. Michel Foucault, uma trajetória filosófica para além do estruturalismo e da heremenêutica. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.