Tenho
a impressão de que estou sempre viajando, querendo compreender o sentido da
minha vida, um exercício de fé para com o futuro. Eu sou um peregrino em
Filosofia, um romeiro, quem anda ou viaja empreendendo longas jornadas existenciais,
que causa estranheza por onde passa, sou um estranho, um estrangeiro, que tem
qualidades raramente vistas, a singularidade.
A
minha busca é dar sentido a uma das falas de Sócrates:
“Conhece-te a ti mesmo.”
“Ou seja, o que Sócrates pregava era que nós devemos
nos ocupar menos com as coisas (riqueza, fama, poder) e passarmos a nos ocupar
com nós mesmos. Poderia objetar-se: com que propósito deveria ocupar-me comigo
mesmo? Porque é o caminho que me permite ter acesso à verdade. Mas que tipo de
verdade? Obviamente não é uma verdade qualquer tal como a fórmula química da
água, mas a verdade que é capaz de transformá-lo no seu próprio ser de sujeito.
É esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscedência, de que
fala Sócrates. Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação
para comigo, com os outros e com o mundo.”
Em
terras de meu domínio sou um peregrino, alguém em busca de si mesmo, que nunca
para de se deslumbrar com o por vir, é a transição do passado para o futuro,
que é viver o presente.
Não me
percebo como turista existencial, alguém em excursão de lazer a lugares
interessantes ou aprazíveis, envolvido por um conjunto de serviços que promove
esse tipo de excursão.
Pelas
experiências fragmentadas que tenho na vida, busco juntar os pedaços e ter uma
visão holística, e entender que em cada momento do tempo me dá uma resposta
existencial.
Se eu
fizer uma comparação da pessoa que eu era no início do curso de Filosofia para
com a pessoa que sou no final do curso neste período aproximado de 2 anos,
tenho a consciência de que mudei em alguma coisa, já não sou a mesma pessoa.
Viajei como peregrino por lugares existenciais que até então existiam, mas
ainda não tinha consciência, ao conhecer tal realidade até então oculta, tive a
opção da mudança, passei a ser outra pessoa, já não sou a mesma pessoa, alguma
coisa me atingiu, e entender este processo, saber o que se passou com a minha
própria pessoa, é um exercício que me remete a um trabalho existencial. É o ato
de conhecer a mim mesmo, de forma mais ampla, mais profunda, mais singular.
Viver
a vida como peregrino ou turista é uma questão de escolha existencial, eu
escolho viver como peregrino, mas reconheço que há muito a perceber, a
entender, a aceitar, a influenciar, que transforma a cada momento o sentido
existencial de uma vida.
Passar
pela vida como turista é uma tentação, é a possibilidade da existência
superficial, sem comprometimento, é apenas o ato de viver e aceitar tudo como
está sem jamais fazer um questionamento. É ter uma alma no sentido platônico e
jamais fazer uso dela. É ser um animal dotado de razão, mas continuar a viver
como animal. E cada um de nós tem a possibilidade de escolha, que tipo de
pessoa quer ser? Uma pessoa animal ou uma pessoa racional, que faz uso de sua
própria existência singular para ser mais humano. Ser humano é a busca de um
peregrino, ser animal é atender os desejos de um turista, que apenas consome o
que satisfaz. Eu escolho ser humano. Mesmo que me custe ser um turista, mesmo
que os recursos não sejam tão abundantes quanto ao de um turista, mesmo que os
destinos sejam menos atraentes, mas que me remeta à pessoa que existe dentro de
mim, faça de mim um descobridor, um revelador, capaz de dar sentido a minha
singular vida existencial. Que assim seja...
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