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sábado, 11 de março de 2017

O Corpo Subverte a Ordem !



         
            Segundo Michel Foucault, “meu corpo é o contrário de uma utopia, é o que jamais se encontra sob outro céu, lugar absoluto, pequeno fragmento de espaço com o qual, no sentido estrito, faço corpo”.
         O corpo define o Homem como um ser singular, único em sua jornada existencial. Existe no espaço tempo, é territorial, tem lugar, habita a matéria, e para sobreviver, subverte todo tipo de utopia, por estar marcado pela concretude de seus movimentos. O corpo torna-se uma topia implacável, que não transcende a sua própria existência.
         A parte do Homem que transcende a matéria cria as utopias, e cria um corpo incorporal, uma utopia que apaga os corpos, e faz do corpo algo para além de sua existência material.
         Segundo Michel Foucault, “Essa utopia é o país dos mortos, são as grandes cidades utópicas que nos foram deixadas pela civilização egípcia. Afinal, o que são as múmias? Elas são a utopia do corpo negado e transfigurado. A múmia é o grande corpo utópico que persiste através do tempo.”
         A utopia do corpo é construída para transformá-la em uma alma, eterna, luminosa, purificada, virtuosa, ágil, móvel, tépida, viçosa, lisa, castrada. O sentido máximo da existência, imortal, sem limites e fim. A utopia nasce do corpo, com a necessidade de sobreviver a tudo e estar para além de uma existência material.
         Para Michel Foucault, “ o corpo humano é o ator principal de todas as utopias”.
         O Homem cria a utopia a partir da topia, não se tira algo do nada, mas tira-se algo do que já existe e transforma o material em algo imaterial. O Homem transcende a partir do corpo, que mesmo mortal, ao fazer parte de uma utopia, eterniza os movimentos humanos, presente na construção de sua transformação.
         Segundo Michel Foucault, “a máscara, a tatuagem, a pintura instalam o corpo em um outro espaço, fazem-no entrar em um lugar que não tem lugar diretamente no mundo”.
         O Homem cria a utopia para viver em seu corpo para além da materialidade, transporta o corpo de seu espaço de origem e o situa no espaço criado pela sua utopia. O mundo deste corpo deslocado já não é o mundo da topia, mas é o mundo para além do mundo material, torna o que é mortal em algo imortal.
         O corpo se metamorfoseia sem deixar de ser corpo, trazendo ao Homem sensações, experiências, situações que criam caminhos para o mesmo destino, que é a morte.
         É no ato do amor que o corpo é corpo, capaz de viver o que está além do corpo. Na sua topia utópica passa a existir com toda plenitude, ao ponto de se multiplicar e perpetuar no tempo.
         Para Michel Foucault, “seria talvez necessário dizer também que fazer amor é sentir o corpo refluir sobre si, é existir, enfim, fora de toda utopia, com toda densidade, entre as mãos do outro”.
         O meu corpo não é apenas meu, mas também é seu, é nosso corpo, unido pela mesma topia, à certeza de que temos o mesmo destino, e por uma questão de sobrevivência criamos utopias para a continuidade da vida. Já não basta ser único, temos que partilhar o que há de mais humano e corporal, a morte. Que mostra o limite da topia, enquanto a utopia é imortal, não tem limites, por estar para além da materialidade do corpo. E contra o fim, o corpo se revolta, subverte a ordem, cria a sua própria utopia, mesmo que ela venha a revele-se como uma topia. Mesmo finito o corpo quer ser infinito, e é assim que perpetua a espécie humana finita.
         Fonte:
         Michel Foucault – O Corpo Utópico


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