A criação e
implementação de políticas de Serviço de Assistência Social é um dever do
Estado e um direito de todos, principalmente nos países que apresentam enormes
desigualdades socioeconômicas. Esta é uma visão de mundo, que esteve presente
no Brasil nos últimos 14 anos, até 2015. É uma visão Social Democrata, onde o
Estado promove políticas que geram o bem estar social da população. Com o
impeachment da presidente Dilma, o novo governo do presidente Michel Temer
assume uma postura Neoliberal e corta recursos financeiros da área de
Assistência Social, pois acredita que o Estado não é responsável por promover
políticas que geram o bem estar social da população, é outra visão de mundo,
oposta, que teve início em 2016 e está presente em 2017.
A área de Serviço de
Assistência Social no Brasil vive um processo de desmonte, ou seja, um
retrocesso nas suas políticas públicas. E tudo tem início, na falta de
definição política do Estado brasileiro. O que é o Brasil? Um Estado Social
Democrata ou um Estado Neoliberal? Estas são as duas visões de mundos que se
chocam no Brasil e influenciam a vida cotidiana de todos os cidadãos, pois são
responsáveis pela definição das políticas públicas do Estado.
A formação de uma visão
de mundo no ocidente tem origem na filosofia, em Sócrates, criador da filosofia
ocidental, edificação da vida humana sobre a base da reflexão e do saber (visão
de si do espírito). Em Platão, a consciência filosófica estende-se à totalidade
do conteúdo da consciência humana, dirige-se não apenas aos objetos práticos,
aos valores e virtudes, mas também ao conhecimento científico (visão de si do
espírito). Em Aristóteles, concentrado no conhecimento científico e em seu
objeto o SER. A essência das coisas, a contingência e os princípios últimos da
realidade (visão de mundo). Com os Estoicos e Epicuristas, pós-aristotélica, a
filosofia torna-se novamente autorreflexão do espírito. Um estreitamento da
concepção socrático-platônica, apenas as questões práticas entram no campo
visual da consciência filosófica. Segundo Cícero, a filosofia aparece como
mestra da vida, inventora das leis, instrutora de toda virtude, ou seja,
filosofia da vida.
Na Idade Moderna, com
Descartes, Espinosa e Leibniz a filosofia tem uma concepção aristotélica, busca
um conhecimento objetivo do mundo tal como é (visão de mundo). Em Kant a
filosofia tem uma concepção platônica, um caráter de autorreflexão de visão de
si do espírito. Uma autorreflexão universal do espírito, como reflexão da
pessoa culta a respeito de todo o seu comportamento valorativo (visão de si do
espírito).
No século XIX os sistemas do idealismo
alemão, em Schelling e Hegel, revive o tipo aristotélico de filosofia (visão de
mundo). Está presente no materialismo e positivismo, a filosofia assume um
caráter puramente formal, metodológico. Existe uma busca de uma metafísica
indutiva, empreendida por Hartmann, Wundt e Driesch, uma filosofia da intuição
encontrada em Bergson e a moderna fenomenologia em Husserl e Scheler. E estamos
ainda em meio a estes movimentos.
Em Essência Há Dois
Elementos da Filosofia: 1 – A filosofia como visão de mundo – o macrocosmo. 2 –
A filosofia como visão de si do espírito – o microcosmo. E a totalidade dos
objetos pode referir-se tanto ao mundo exterior quanto ao mundo interior. Assim
chega-se a definição da Essência da Filosofia: Segundo Johannes Hessen, “a
filosofia é a tentativa do espírito humano de atingir uma visão de mundo,
mediante a autorreflexão sobre suas funções valorativas teóricas e práticas.”
E é a partir da
filosofia grega, que se constrói uma visão de mundo ocidental, fortemente
influenciada posteriormente pelo liberalismo protestante, que teve as suas
origens não somente no pensamento religioso, mas também na filosofia moral de
Kant. Com o surgimento do capitalismo, após o feudalismo, que se tornou
hegemônico no mundo ocidental, estabeleceu-se uma conduta liberal, que é a
ética predominante. Geradora de uma concentração de renda brutal na mão de 1%
da população a nível global. O sentido e significado de tudo isso é apenas a manutenção
do poder nas mãos de poucos, que não se sentem comprometidos com a sociedade. É
uma distopia social por ser a causa da geração e manutenção de problemas
sociais, e esta é uma das visões de mundo que combate o capitalismo.
Para se ter um equilíbrio
social faz-se necessário a construção de um modelo econômico sustentável, o que
não é permitido pelo capitalismo em face de suas contradições internas
existentes na sua maneira de ser. Representa a maior causa da crescente
desigualdade socioeconômica presente no mundo. Inviabilizando políticas sociais
do Estado.
O Estado das nações tem
um papel relevante e fundamental na criação e implementação de políticas
públicas com vistas a tornar a sociedade mais justa. A iniciativa privada tem a
responsabilidade de promover soluções para os problemas sociais, em parceria
com as políticas públicas do Estado. Esta é uma visão de mundo oposta ao
capitalismo. Que tem origem com a dialética de Hegel, onde Marx sugere uma
antítese à tese do liberalismo, através de uma interpretação social, que
destaca o conflito de classes no capitalismo, e sugere a criação do comunismo,
que veio influenciar na formação do Estado Social Democrata. Forma altamente
sofisticada que tem como premissas o bem estar e a justiça social, através de
políticas públicas implementadas por um Estado forte.
O mundo, que ainda não
existe, pode ser criado, a realidade vigente pode ser transformada, na medida
em que os valores presentes na sociedade sejam revistos e trabalhados para
atenderem as necessidades da população mais carente e marginalizada.
Fechar os olhos para os
problemas sociais e priorizar o lucro sem responsabilidade social é fechar os
olhos para um futuro sustentável. Com a manutenção do atual status quo, será
inviável do ponto de vista político governar as sociedades, as demandas sociais
terão tamanha dimensão, que fomentarão as revoltas e os distúrbios sociais,
chegará a um ponto que haverá desobediência civil e a sociedade rumará para a
barbárie. Será a instauração do caos social, a decadência da sociedade
contemporânea. Para evitarmos tal destino, a Política de Serviço de Assistência
Social passa a ser um dever de todos, para a materialização de um modelo
econômico sustentável, aquele que seja comprometido com as questões sociais.
A solução dos problemas
sociais em um país passa pela participação política da população, pelo voto nas
eleições de seus representantes, pela vigilância, acompanhamento e cobrança das
autoridades presentes nos três poderes do Estado, o executivo, o judiciário, legislativo
e a escolha democrática de uma visão de mundo político-econômica que defina o
papel do Estado na sociedade. Todo processo se materializa dialeticamente ao
longo da história, criando utopias e permitindo a realização do novo. Assim,
surge a esperança nos escombros do passado.