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domingo, 19 de fevereiro de 2017

O Diálogo entre o Mestre e o Discípulo - 1ª Ato !




1ª Ato: O Estudo como caminho para ter um bom Amigo
          A partir da cultura oriental vamos conhecer caminhos para sermos bons amigos, aperfeiçoarmos eticamente, o que passa tanto pela instrução formal quanto pela convivência com pessoas de ideias comuns. Estudar não significa somente a busca de conhecimento, mas um caminho, um método que pode resolver, ao mesmo tempo, problemas morais, éticos e sociais, como harmonizar as relações sociais.
- O Mestre: Aprender algo e depois poder praticá-lo com regularidade, isso não é um contentamento? Se amigos vêm de lugares distantes, isso não é uma alegria? Se pessoas não reconhecem meu valor, e eu, apesar disso, não sinto rancor, isso também não é característica do Homem Nobre?
- O Discípulo: Passamos uma vida estudando e quando podemos saber que estamos prontos para praticar o que aprendemos?
- O Mestre: Tanto o processo de estudar como seu resultado de aprender estão unidos, o que significa que aquilo que se estuda deve necessariamente ter uma utilidade definida, e isso só pode ser atingido por meio de uma prática regular.
- O Discípulo: E o que tem haver estudo com o amigo?
- O Mestre: Amigo é aquele com quem se têm ideias comuns.
- O Discípulo: Para eu achar um amigo na vida devo conhecer alguém que tenha as mesmas ideias que eu, os mesmos gostos e desejos?
- O Mestre: As coisas que possuem a mesma natureza permanecem juntas.
- O Discípulo: Estou confuso, como posso distinguir os conhecidos dos amigos, e os amigos dos amigos de verdade?
- O Mestre: Pelo grau da similaridade de suas naturezas.
- O Discípulo: Quanto mais amigo, mais similar.
- O Mestre: Se você é estudioso, busca um modelo de perfeição, será com essas pessoas que você formará amizade.
- O Discípulo: Além do senhor, não conheço muitas pessoas assim?
- O Mestre: Para ser nobre tem que atingir uma dimensão ética e ao mesmo tempo uma dimensão social. Para o desenvolvimento moral do indivíduo, estudar basta. O que pode trazer o desenvolvimento psicológico do indivíduo.
- O Discípulo: Então serei amigo da pessoa com a qual consigo me relacionar de forma elevada e profunda, conforme o meu grau de instrução. Se eu for nobre, terei amigos nobres.
- O Mestre: Os que têm conduta Filial e Fraterna em casa, mas costumam ofender seus superiores na sociedade, pessoas assim são raras. Os que contrariam seus superiores, mas gostam de causar tumulto, pessoas assim nunca existiram. O Homem Nobre esmera-se no que há de fundamental: uma vez os fundamentos estejam estabelecidos, surge então o Caminho. Ser Filial e Fraterno, não são esses os fundamentos do agir com Humanidade?
- O Discípulo: Para ser Humano tem que ser Nobre, e uma pessoa não pode Ser e Não-ser. Ou sou Humano, ou não sou Humano. A educação me dá os fundamentos para conhecer o Caminho.
- O Mestre: É no conhecimento do caminho para ser humano é que mantém a Ordem por intermédio dos deveres éticos sociais imprescritíveis.
- O Discípulo: Mas manter a Ordem em muitos casos é a afirmação do poder vigente, que pode ser um poder opressor do povo. Como mudar a vida sem fazer uma revolução?
- O Mestre: A afirmação das autoridades superiores e dos regimes políticos vigentes ocorre em decorrência da natureza das relações humanas. Aprende-se primeiramente em casa, assim, devemos fazer a seguinte pergunta: Como são as relações humanas em sua casa?
- O Discípulo: Eu estou aprendendo a valorizar a minha casa, fora de casa, ao estudar e tentar ter atitudes nobres na vida, percebo o quanto a minha vida familiar é importante para me formar para a vida.
- O Mestre: Na sua maioria, os primeiros verdadeiros amigos de uma pessoa são os próprios pais, com todas as suas limitações e privações impostas pela vida. São eles que geram a vida e lutam pela sobrevivência do filho.
- O Discípulo: Às vezes buscamos os amigos em nossas relações sociais e esquecemos os nossos próprios pais.
- O Mestre: A Filialidade e Fraternidade envolvem o dever não apenas de amar e cuidar de pais e irmãos mais velhos, mas o dever de obediência e submissão.
- O Discípulo: Mas o Homem para ser livre não tem que ser capaz de subverter a Ordem, o que muitas das vezes impede exercer os dever da obediência e submissão?
- O Mestre: É através da obediência e submissão que a sociedade se beneficia do prolongamento da hierarquia existente na estrutura familiar, de modo que os que estão acima são como pais ou irmãos mais velhos.
- O Discípulo: Então o indivíduo não pode se rebelar ou desobedecer civilmente? Como as minorias oprimidas fazem para protestar e reivindicar os seus próprios direitos?
- O Mestre: A ordem social deve espelhar a Harmonia familiar.
- O Discípulo: Então para os indivíduos que não tem uma Harmonia familiar, ou seja, suas famílias são desestruturadas, não há ordem social?
- O Mestre: Para os indivíduos que não tem a oportunidade de aprender em casa a obedecer e ser submisso aprende a ser na sociedade, através dos instrumentos de repressão do Estado.
- O Discípulo: Assim, a vida é dura para as famílias desestruturadas, seus membros sofrem muito por não aprenderem um caminho para viver.
- O Mestre: O dever para com os pais e os irmãos mais velhos é a raiz do arranjo social, todas as outras relações são projetos do mundo familiar.
- O Discípulo: Mas será possível ter um dever para com os pais, e outro dever para com a sociedade, ter relações sociais diferentes das do mundo familiar? Como podemos ter uma atitude de vanguarda e assim evoluir? Qual é o caminho?
- O Mestre: O surgimento do Caminho é consequência de uma sociedade em que os deveres de Filialidade e Fraternidade estão universalmente estabelecidos.
- O Discípulo: Mas o que é universal? Se o que é importante para mim, pode não ser importante para o outro?
- O Mestre: Universal são os valores que são importantes para todos.
- O Discípulo: Se duas ou mais pessoas dão valor a mesma ideia, visão de mundo, essas ideia é universal?
- O Mestre: Um exemplo é a Filialidade e a Fraternidade que são o caminho que leva à Ordem, isto é, o meio para atingir a harmonia das relações sociais. Um valor universal por ser desejado por muitos indivíduos, às vezes não todos os indivíduos.
- O Discípulo: O indivíduo para ser Humano tem que ser Filial e Fraterno?
- O Mestre: A Filialidade e a Fraternidade são um dos aspectos que determina o que é a Humanidade, seu conteúdo e virtude ética, um atributo do Homem Nobre.
Referência:
CONFÚCIO. Os Anelectos; tradução: Giorgio Sinedino. – São Paulo: Folha de S. Paulo, 2015




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