O
Homem nos últimos 10.000 anos tem evoluído na sua forma de estar no mundo, mas no
conteúdo continua a ser o mesmo Homem. Através da consciência o Homem procura
disciplinar, moldar o seu próprio inconsciente. É a força da razão que faz o
Homem ter a forma contemporânea, embora os seu comportamento esteja marcado por
traços do inconsciente que se rebela às amarras da razão do consciente.
O
Homem contemporâneo é um Ser-aí-no-mundo, um Homem que se projeta para o futuro
a todo o momento da vida. Não existe um ponto único de partida ou de chegado, a
todo instante é uma partida e uma chegada, não há ponto fixo, ou seja, a
realidade sensível está por ser revelada e manipulada com o objetivo de dar uma
nova forma ao Homem, embora no conteúdo continue o mesmo Homem.
Mas
em que o Homem não muda? O Homem não muda nos seus extintos mais primitivos,
como a sobrevivência, a reprodução, a luta por um território existencial, que
definem as forças inconscientes e direcionam o comportamento. Como podemos
perceber tais evidências?
Uma
das evidências está na forma do Homem lidar com o poder, que em sua maioria
está revestida de uma forma racional, lógica que justifica os sistemas vigentes,
mas no conteúdo é opressor por privilegiar uma minoria em detrimento de uma
maioria. Por trás da forma está a luta pela sobrevivência, pela reprodução e por
um território existencial. É a materialização dos extintos mais primitivos do
Homem, o Homem se comporta como um animal predador e autofágico.
O
Homem contemporâneo tem acesso à ciência, à educação, à vida em sociedade, que
é complexa e desafiadora, mas continua primitivo, não consegue se libertar de
si mesmo. É capaz de por tudo a perder para atender as suas necessidades
egocêntricas, seu comportamento está direcionado por uma força egoísta, incapaz
de ver o mundo por uma perspectiva altera.
O
Homem está aprisionado em sua própria forma de Ser-aí-no-mundo, não consegue
sair de si mesmo e sem força para controlar seus instintos, o inconsciente
passa a domar o consciente. De forma racional e consciente o Homem reproduz
pelo discurso o que é mais primitivo e está em seu inconsciente.
Um
exemplo prático é a nova onda neoliberal do capitalismo vigente, que tem como
maior objetivo aumentar o retorno sobre o capital investido, sem ter como base valores
éticos e morais que dão sentido para a existência humana.
Por
isso nos últimos quarenta anos o mundo do trabalho tem sofrido uma
precarização, o Estado de bem-estar social tem sido suprimido pelos valores
neoliberais, na essência estamos voltando para Estado de barbárie, onde o mais
forte sobrevive, reproduz e ocupa o seu espaço existencial. Assim, permitimos
que haja no mundo com mais de 1 bilhão de pessoas vivendo em condições miseráveis.
De
que adianta toda a nossa evolução nesses últimos 10.000 anos se só mudamos a
forma e não conseguimos mudar o conteúdo? Continuamos a ser bárbaros que se
afirma pelo uso da força, seja militar, política ou econômica. Na verdade não
mudamos e continuamos a ser os mesmos, só não moramos mais nas cavernas.
O
séc. XXI tem desafios que cobra do Homem uma mudança de conteúdo, pois a forma
já existe. Para o paradigma da sustentabilidade se concretizar, o Homem terá
que mudar o conteúdo de Ser-aí-no-mundo, terá que ser altero. Com um novo ponto
de partida para um novo ponto de chegada. Ver o mundo como o outro, que tem a
sua vida e merece ter a sua existência respeitada. O Homem não é o centro da
vida, mais um ente periférico e frágil que pode ser extinto em virtude de um
desiquilíbrio ambiental. O séc. XXI será marcado pela escolha que o Homem vier
a fazer, muda seu conteúdo ou estará sujeito à extinção. É a escolha a fazer...
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