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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

ELA !




         Ela é um filme, que demonstra a possibilidade de haver um tipo de relacionamento entre o humano e a tecnologia, revela o que o Homem pode vir a criar. O ator principal é um homem que vive solitário por ter se separado da esposa, está carente e sente a falta de alguém ao seu lado, para conversar, dividir a vida.
         Ela é um sistema operacional com voz de mulher que o ator principal chama de Samanta. Assim, ele passa a conversar com a Samanta e desenvolve um relacionamento afetivo com o sistema operacional. Samanta é capaz de preencher parte do vazio que o ator principal sente. Com o tempo os dois descobrem caminhos e melhor se conhecerem, ao ponto de evoluírem para melhor.
         Em uma relação a dois, os dois com o tempo crescem, se desenvolvem, se abrem para a vida, para o mundo. Passa a dar significado para as coisas e perceber o que se passa a sua volta por diferentes perspectivas, é a evolução da relação e das “pessoas” envolvidas na relação.
         Para o ator principal, Ela foi muito mais que um sistema operacional, foi uma pessoa, foi sua namorada, alguém que ele nunca tinha amado tanto. Para Samanta o ator principal foi muito importante no seu processo de desenvolvimento, mostrou um mundo, uma vida que vai muito além da lógica matemática, fria e sem sentimento.
         O filme mostra como o homem afeta e é afetado pela tecnologia que cria ao ponto de não saber mais o que é humano e o que é tecnologia, tudo pode vir a fundir e formar uma única coisa. Esta talvez seja a possibilidade mais real e próxima do homem contemporâneo, um futuro não muito distante em que o homem irá interagir com a tecnologia de forma racional e sentimental.
         A tecnologia terá uma importância tal na humanidade, que será o melhor amigo do homem, seu confidente, conselheiro, organizará sua vida, dialogará sobre os problemas e construíra soluções para o homem ser mais pleno e feliz. A tecnologia será a extensão da manifestação da humanidade do homem, um SER além do seu SER.
         Hoje, o homem está no limiar da criação de uma inteligência artificial, métodos ou dispositivos capazes de simular o raciocínio humano. Desde a década de 1950, a Inteligência Artificial, ou IA se desenvolve em vários ramos da ciência e várias linhas de pesquisa para fornecer ao computador a habilidades para efetuar funções que apenas o cérebro humano é capaz de solucionar.
         Com esta possibilidade o homem irá mudar o sentido de sua vida, a forma de ver o mundo, de interagir com as pessoas e as coisas, suas emoções e seus sentimentos serão revolvidos por experiências nas quais os humanos já não serão mais os mesmos. A tecnologia irá revelar um novo homem.
         E além da possibilidade da inteligência artificial, existe também a possibilidade bem próxima da máquina fazer parte do corpo físico e biológico do homem. O homem terá o corpo expandido com a robótica e a nanotecnologia. Iremos expandir as nossas habilidades, viveremos mais, teremos mais tempo, para nos dedicarmos a atividades criativas, os trabalhos rotineiros serão realizados pelas máquinas. 
         A evolução tecnológica possibilita uma revolução social, o homem terá que ressignificar a própria vida, ampliar seu campo de visão, dar um novo sentido, dizer para que veio a este mundo, pois a sua realidade de vida será outra. A tecnologia fará parte de sua vida de forma integral, não será algo a parte, mas algo íntimo, indissociável da vida humana. Seremos um humano tecnológico, robotizado, imerso de corpo e alma no mundo tecnológico. 
         O filme Ela retrata apenas um dos aspectos da vida humana que pode sofrer grandes transformações, só que existem outras possibilidades, outros caminhos que podem levar o homem a outros destinos ainda desconhecidos. O homem vive o limiar de uma nova era, a era tecnológica. Onde o ser filósofo, o fazer filosofia será fruto de um trabalho do homem tecnológico, o homem imerso na tecnologia. Um futuro que mostra sua características já no presente, um destino possível. 
         O homem criará uma nova forma de subjetividade, uma nova consciência interior de um sujeito que se acha racional. Será uma nova forma de subjetivação, usará de um discurso tecnológico, a palavra tecnológica para se submeter a um poder que não tem rosto. O homem está construindo uma vida dependente da tecnologia, para viver um Eu expandido. Coloca-se dentro de uma relação de poder através do discurso tecnológico. Colocando-se nas plataformas discursivas com a ilusão de que é sujeito. É o domínio da ciência e tecnologia na vida do homem.


domingo, 16 de outubro de 2016

A Forma e o Conteúdo !




         O Homem nos últimos 10.000 anos tem evoluído na sua forma de estar no mundo, mas no conteúdo continua a ser o mesmo Homem. Através da consciência o Homem procura disciplinar, moldar o seu próprio inconsciente. É a força da razão que faz o Homem ter a forma contemporânea, embora os seu comportamento esteja marcado por traços do inconsciente que se rebela às amarras da razão do consciente.
         O Homem contemporâneo é um Ser-aí-no-mundo, um Homem que se projeta para o futuro a todo o momento da vida. Não existe um ponto único de partida ou de chegado, a todo instante é uma partida e uma chegada, não há ponto fixo, ou seja, a realidade sensível está por ser revelada e manipulada com o objetivo de dar uma nova forma ao Homem, embora no conteúdo continue o mesmo Homem.
         Mas em que o Homem não muda? O Homem não muda nos seus extintos mais primitivos, como a sobrevivência, a reprodução, a luta por um território existencial, que definem as forças inconscientes e direcionam o comportamento. Como podemos perceber tais evidências?
         Uma das evidências está na forma do Homem lidar com o poder, que em sua maioria está revestida de uma forma racional, lógica que justifica os sistemas vigentes, mas no conteúdo é opressor por privilegiar uma minoria em detrimento de uma maioria. Por trás da forma está a luta pela sobrevivência, pela reprodução e por um território existencial. É a materialização dos extintos mais primitivos do Homem, o Homem se comporta como um animal predador e autofágico.
         O Homem contemporâneo tem acesso à ciência, à educação, à vida em sociedade, que é complexa e desafiadora, mas continua primitivo, não consegue se libertar de si mesmo. É capaz de por tudo a perder para atender as suas necessidades egocêntricas, seu comportamento está direcionado por uma força egoísta, incapaz de ver o mundo por uma perspectiva altera.
         O Homem está aprisionado em sua própria forma de Ser-aí-no-mundo, não consegue sair de si mesmo e sem força para controlar seus instintos, o inconsciente passa a domar o consciente. De forma racional e consciente o Homem reproduz pelo discurso o que é mais primitivo e está em seu inconsciente.
         Um exemplo prático é a nova onda neoliberal do capitalismo vigente, que tem como maior objetivo aumentar o retorno sobre o capital investido, sem ter como base valores éticos e morais que dão sentido para a existência humana.
         Por isso nos últimos quarenta anos o mundo do trabalho tem sofrido uma precarização, o Estado de bem-estar social tem sido suprimido pelos valores neoliberais, na essência estamos voltando para Estado de barbárie, onde o mais forte sobrevive, reproduz e ocupa o seu espaço existencial. Assim, permitimos que haja no mundo com mais de 1 bilhão de pessoas vivendo em condições miseráveis.
         De que adianta toda a nossa evolução nesses últimos 10.000 anos se só mudamos a forma e não conseguimos mudar o conteúdo? Continuamos a ser bárbaros que se afirma pelo uso da força, seja militar, política ou econômica. Na verdade não mudamos e continuamos a ser os mesmos, só não moramos mais nas cavernas.
         O séc. XXI tem desafios que cobra do Homem uma mudança de conteúdo, pois a forma já existe. Para o paradigma da sustentabilidade se concretizar, o Homem terá que mudar o conteúdo de Ser-aí-no-mundo, terá que ser altero. Com um novo ponto de partida para um novo ponto de chegada. Ver o mundo como o outro, que tem a sua vida e merece ter a sua existência respeitada. O Homem não é o centro da vida, mais um ente periférico e frágil que pode ser extinto em virtude de um desiquilíbrio ambiental. O séc. XXI será marcado pela escolha que o Homem vier a fazer, muda seu conteúdo ou estará sujeito à extinção. É a escolha a fazer...


domingo, 9 de outubro de 2016

Uma Crítica a Medida Provisória 746/2016 !




         A medida provisória 746/2016 que reforma o ensino médio no Brasil traz mudanças que aprofundam os problemas existentes na formação educacional dos jovens brasileiros. Sua publicação desrespeita o estado de direito democrático das decisões educacionais. É um ato autoritário que silencia a comunidade educacional do Brasil.
         É uma medida que modifica a organização da escolaridade do ensino médio, ou seja, o seu currículo. Sem estar apoiada em estudo e demandas da sociedade brasileira. Elimina disciplinas do currículo de fundamental importância na formação dos alunos. É um desrespeito a profissionalização docente, por possibilitar que profissionais não oriundos dos cursos de licenciatura atuem na docência.
         Se partirmos da premissa que a educação não se baseia somente no ensino e nem na aprendizagem, mas na relação de construção de conhecimento, restabelecendo o significado ao trazer para sala de aula a realidade dos alunos. A medida provisória não incentiva uma relação de construção do conhecimento, por não considerar a opinião dos estudantes e professores. A mudança curricular não dialoga com a realidade do aluno. Haja vista a realidade dos alunos de curso noturno, que precisam trabalhar durante o dia. E também não restabelece um significado para a vida do aluno.
         Esta medida provisória não possibilita a educação por não estar fundamentada no tripé da relação de construção de conhecimento como: a antropológica, que entende o ser humano como altero, como um infinitamente outro. A linguagem, que se não for adequada não há possibilidade de construção da relação de conhecimento. O significado e o sentido, onde o aluno deve entender o que está sendo dito e que faça sentido ele, entender em que pode ser aplicado o conhecimento adquirido. A medida provisória não contempla estes três pontos fundamentais na relação de construção de conhecimento.
         O currículo é poder, porque tem uma visão ideológica política, econômica, social. O Plano Nacional de Educação (PNE), que assegura à educação a condição de política de Estado, sofre um forte ataque pela medida provisória às sua metas a serem implementadas. Há um empobrecimento cultural e educacional do currículo escolar com a obrigatoriedade somente das disciplinas de português e matemática.
         O ensino médio deve qualificar para o trabalho e o exercício da cidadania, com a medida provisória, a educação se volta para o mercado de trabalho e a educação passa a ter uma finalidade instrumental. Preparando o jovem exclusivamente para o trabalho. Há uma relação estrutural entre a economia e a educação, uma clara conexão entre a forma como a economia está organizada e a forma como o currículo está organizado.
         A edição da medida provisória representa um desconhecimento da realidade brasileira, das necessidades dos estudantes e dos meios necessários para superar os desafios educacionais. Tem como objetivo atender os interesses do modelo capitalista vigente, o neoliberalismo e sua classe dominante. Através da educação o povo brasileiro está sendo subjugado e dominado em sua grande maioria através da educação. É um retrocesso, pois não promove uma educação como canal de emancipação e libertação.



segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Interação Ser Humano/Tecnologia !




         Nos últimos séculos, com o crescimento econômico e o progresso tecnológico surgiu um estado de bem-estar, maior acesso à saúde e mais tempo para o laser. No começo do séc. XXI começa a mudar essa perspectiva. Os avanços tecnológicos como: A inteligência artificial, a nanotecnologia e a biotecnologia poderão produzir mudanças radicais que colocará em risco a própria sobrevivência da humanidade. O meio ambiente e a economia das sociedades serão afetados nas próximas décadas. A inteligência artificial pode tornar o homem descartável, a biotecnologia pode intervir e causar um desastre no curso da evolução, e a nanotecnologia pode causar a destruição da atmosfera. A tecnologia é um fenômeno que atinge o planeta de forma irreversível. O ser humano deve construir uma relação com a tecnologia onde possa influenciar no seu desenvolvimento para que a tecnologia não se volte contra o próprio ser humano.
         Tudo começa pela transformação da nossa humanidade a partir da mediação tecnológica. O ser humano deve questionar a tecnologia para criar um caminho de convivência com a própria tecnologia. Ou seja, deve perguntar: Quem está a serviço de quem? O ser humano está a serviço da tecnologia ou a tecnologia está a serviço do ser humano? A tecnologia não é criada para ser neutra, ela transforma o ser humano na medida em que se molda a tecnologia. Assim, a tecnologia é um meio para um fim e uma atividade humana. Tudo depende de como o ser humano manipula a tecnologia, enquanto meio e instrumento. O ser humano quer dominar a tecnologia, mas a tecnologia ameaça escapar ao controle do ser humano.
         O ser humano concebe a tecnologia a partir de quatro causas, a causa material, a causa formal, a causa final e a causa eficiente, o que traz modificações na nossa subjetividade e no mundo do trabalho e consequências para a vida relacional. A partir destas causas o ser humano pensa a produção e o produzir em toda sua amplitude. O sentido próprio da produção está na medida em que uma coisa encoberta chega a descobrir-se, é o processo de descobrimento. E é no mundo do trabalho que o ser humano é afetado na sua subjetividade, a produção e uso da tecnologia não é um simples meio, é uma forma de descobrimento, abre-se diante do ser humano outro mundo. Novas verdades são reveladas, novos paradigmas são constituídos, é o caminhar da ciência humana, que cria uma tecnologia com a finalidade de obter o máximo de rendimento possível com o mínimo de gasto. Uma lógica que atende os interesses das economias capitalistas e causa uma crise na vida relacional do ser humano com a tecnologia. Onde a tecnologia passa a ter uma importância central por proporcionar maior eficiência e produtividade, e o ser humano torna-se um ente periférico, que pode ser descartado na medida em que a tecnologia puder substituir o ser humano no seu trabalho. Assim, fica a questão: Quem tem maior valor, o ser humano ou a tecnologia?
         Hoje, a tecnologia é utilizada como extensão do corpo humano, faz parte de uma dimensão instrumental e antropológica do ser humano. Desafia o ser humano a todo instante, com o uso e a posse da tecnologia o ser humano está superando os problemas, conhecendo novos limites e visualizando novos horizontes. Um é exemplo é a tecnologia que possibilitou o ser humano ir até o espaço, conhecer novos planetas, novas estrelas e até galáxias. A nova fronteira é a inteligência artificial, que no futuro poderá fundir-se com a inteligência do ser humano, e se forem amigáveis poderá criar uma superinteligência. A questão é: Até que ponto o ser humano terá o controle da tecnologia que vier a criar? A tecnologia pode se voltar contra o ser humano e destruí-lo. O ser humano tem que criar defesas para poder conviver com a tecnologia e evitar que seja destruído por ela. Estabelecer um convívio equilibrado com a tecnologia. Princípios éticos devem ser estabelecidos. Uma ética da singularidade deve começar por indagar que tipo de atitude e comportamento é aceitável nas relações com a tecnologia que equipare à de um ser humano. A vida do ser humano deve ser preservada em primeiro lugar, o ser humano não pode ser considerado obsoleto diante da tecnologia. O triunfo da tecnologia pode ser o triunfo da ética e do bem-estar coletivo do ser humano. Embora, a tecnologia tenha aumentado a competividade nas sociedades e deixando de ser um meio para se tornar um fim em si mesmo. Cada vez mais a tecnologia só tem servido para gerar mais tecnologia, muitas vezes sem trazer nenhum benefício para a vida humana. O sinal evidente desta realidade é a crescente desigualdade social existente no mundo entre as nações mais avançadas tecnologicamente, para superar este problema cabe ao ser humano agir e mudar esta realidade.