Filosofar
é constantemente querer saber. O filósofo persiste, insiste e não desiste.
Jamais acomoda e aceita a verdade de forma passiva. Questiona ao ponto de
levantar todas as hipóteses e todas as suspeitas. As respostas não são
evidentes, devem estar fundamentadas, argumentadas, logicamente construídas. O
filósofo combate a precipitação, o imediato, as evidências do senso comum.
O
filósofo tem que ser um intérprete da realidade. Pois a realidade é ambígua,
apresenta vários significados possíveis. Nada é o que parece, e a realidade
raramente é transparente e linear. O filósofo tem que espiar, interpelar,
levantar questões.
Para
interpretar, o filósofo procura a universalidade, ou seja, a totalidade dos
objetos e do sujeito. Tudo o preocupa, toda a vida, toda a ação. Compreender o
todo implica distanciamento, abstração e descentralização.
O
filósofo trabalha com todo o seu ser todo o seu pensamento, sente e expressa
sua inquietação. As questões da filosofia não são hipóteses científicas, nem
exercícios de abstração. Resultam de uma inquietação e de uma procura. Interrogamos,
estremecemos e inquietamos perante a verdade, a vida, a morte, a dor, o
reconhecimento, a história, o amor. Pensar, querer e julgar não são exteriores
a nós. A filosofia e a vida estão ligadas, e, por vezes, demasiado ligadas.
Por
mais concreto que seja um problema, só o tratamos filosoficamente se o
abordarmos metodicamente com a maior generalidade possível. Na interpretação
filosófica, estão em evidência o observador e o observado. A filosofia forma
uma rede de conclusões interdependentes. A necessidade de sistematização surge
tanto no âmbito prático como no teórico. A consciência e a coerência da
filosofia brotam do pensamento sistemático.
No
plano teórico, devemos correlacionar as ideias se queremos que elas tenham
impacto. Como forma de conhecer e reconhecer, a filosofia torna-se vital,
levando-nos a responder a questões fundamentais. Para ser esclarecedora, a
filosofia deve usar uma linguagem já reconhecida e ligar-se a interpretações
anteriores.
Orientamo-nos
por ideias que nos foram comunicadas pela cultura. Interpretamos o mundo
conforme a ciência e o senso comum, com raízes profundas no passado. Julgamos e
decidimos segundo princípios morais que a sociedade nos transmitiu. Nossas
ações e decisões terão efeitos nos corredores do futuro. Por isso sabemos que a
historicidade está presente na compreensão filosófica.
A
filosofia não é uma falácia, no presente ela conecta o Homem com o passado e o
projeta para o futuro, na medida em que cria utopias e desconstrói distopias.
Uma sociedade só caminha, a partir da esperança que tem para com o futuro. E
que futuro é esse ? É o futuro que pode ser construído com ações práticas no
presente, e que estejam sendo iluminadas por uma crítica filosófica.
Fonte:
HENRIQUES,
Mendes / Nazaré Barros. Olá, Consciência
! Uma viagem pela filosofia – É Realizações Editora – São Paulo – SP, 2013.
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