O
mundo contemporâneo vive o despertar da mulher em todos os níveis da sociedade,
a busca da emancipação com a conquista de direitos e a autonomia no cumprimento
de seus deveres. Mas será essa a realidade de todas as famílias brasileiras? A Constituição
Federal e o novo Código Civil de 2002 estabelecem direitos e deveres iguais
para homens e mulheres cabem ao casal, entre outras coisas, a responsabilidade
de criar, educar, guardar, manter e representar os filhos. Mas está presente o pátrio
poder que se materializa na cultural e nos relacionamentos entre homens e
mulheres no Brasil. O homem se coloca como chefe de família, senhor das
decisões familiares. Sobre o poder pode-se dizer muito, existe um discurso que
permeia todo corpo social.
O que faz com
que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só
como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz
ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve−se considerá−lo como uma rede
produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância
negativa que tem por função reprimir. (FOUCAULT, 2015, p. 45)
Existe
um mecanismo de poder que se manifesta na relação do homem com a mulher, a
sociedade brasileira ainda detém valores conservadores oriundos de uma tradição
patriarcal. O homem ainda possui a última palavra para as decisões mais
complexas, como se fosse o detentor da verdade, expressa pelo uso de seu poder.
Não será essa uma manifestação do papel existencial do Pai? A verdade de uma
forma ou de outra está relacionada com o poder, produz saber, que produz
relações de poder e constitui a formação do núcleo familiar.
O importante,
creio, é que a verdade não existe fora do poder ou sem poder. A verdade é deste
mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos
regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua
“política geral” de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz
funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem
distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns
e outros; as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da
verdade; o estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como
verdadeiro. (FOUCAULT, 2015, p. 51 e p. 52)
A
questão central está na forma como é elaborado o discurso, que se diz ser
verdadeiro. Até onde o pátrio poder dá conta de responder a todos os desafios
da família contemporânea? Não seria ele oriundo de um machismo reprimido pelo
atual modo de ser da mulher? Uma forma mais transparente, sincera e autônoma, que
em muitas das vezes assusta o homem, e o coloca em cheque. Como reação a nova
forma de ser da mulher, o homem se afirma com a utilização de seu pátrio poder.
Assim percebe-se o modo conservador de ser das famílias brasileiras, e que
transcende e forma a sociedade. A grande maioria das pessoas no Brasil ainda
são tradicionais e conservadoras em seus núcleos familiares. Novas ideias e
formas de ser da família, ainda servem de questionamento paras as pessoas e
estão restritas a uma pequena parcela da sociedade. Pois as práticas ou relações
que definem a família é exercida pelo pátrio poder.
O poder não
existe; existem práticas ou relações de poder. O que significa dizer que o
poder é algo que se exerce, que se efetua, que funciona. E funciona como uma
maquinaria, como uma máquina social que não está situada num lugar privilegiado
ou exclusivo, mas se dissemina por toda a estrutura social. (FOUCAULT, 2015, p.
17)
A
questão não é se existe o pátrio poder, mas se na forma como as famílias estão
constituídas são felizes. A liderança da família pode ser exercida pelo homem,
e os debates podem ser compartilhados pelo casal, mas o poder deve está
destinado a um membro da família, o qual deve ter a última palavra nas decisões,
para assim a família ter um norte, um destino a um bem coletivo. A sociedade
brasileira faz a sua escolha na sua forma de ser para preservar a sua
sobrevivência e sua longevidade. Se o homem ainda é o líder familiar na maioria
das vezes, talvez seja uma escolha feita pela sociedade brasileira. E esta
talvez seja a maior responsabilidade de um Pai, ou seja, liderar a sua própria
família, tornar os seus membros felizes e imersos no amor de um pelo outro.
Este é o sentido existencial de uma família, viver para ser plena e feliz.
Referência
Bibliográfica:
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder / organização, introdução e revisão técnica de
Roberto Machado. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.
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