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terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Por uma Política Prática !



Como o capitalismo, a moral e a política se relacionam na virada do milênio do mundo contemporâneo? Existe uma dificuldade em conciliar valores morais universais com uma sociedade, que estimula o individualismo, a competitividade e a defesa dos interesses particulares em detrimento do bem comum.

Hoje, a política como lugar de manifestação das aspirações humanas de liberdade e justiça, tornou-se irrelevante para a maioria das pessoas. A política não atrai senão alguns poucos profissionais que vivem de política, mas não para a política. Consolidou-se, a partir daí, a percepção de uma instrumentalização generalizada da política por interesses particulares, partidários ou corporativos. Esse gesto de desprezo pela política é visível, sobretudo, nas gerações mais jovens. Existe a necessidade de ressignificar a política, em especial no Brasil.

O distanciamento da juventude da política está diretamente ligado ao declínio da própria ação política como meio de transformação da realidade e realização humana, contrariando seu sentido original, aquela que Aristóteles chamava de práxis, isto é, atividade verdadeiramente livre e única capaz de realizar o ser do homem.

Os mais jovens demonstram, vivo interesse pelas questões coletivas, só que agora esse interesse se manifesta não mais pela participação política, mas por um retorno às questões morais, mesmo que agora elas recebam outros nomes, como direitos humanos, caridade social, ação humanitária, ambientalismo etc.

O jovem está se apegando a uma vida conduzida por uma moral capaz de transformar a sua realidade, e os motivos que fazem o jovem trocar uma vida política por uma vida moral são: A burocratização da política, a derrocada do socialismo soviético, criando a aparência de um triunfo do capitalismo e a ausência de uma alternativa política a ele. O papel descrente da religião como amálgama social, não apenas como crença individual, o que reforçou o movimento em busca de substitutos morais que sirvam de referências para as condutas pessoais. Tudo isso parece-nos mais do que suficiente para afirmar que, efetivamente, vivemos num período de retorno da questão moral.

Só que a moral não é capaz de substituir a política, não podemos esperar eliminar o desemprego, a miséria, a fome e a exclusão social pela simples caridade social. É necessária a criação de programas políticos muito bem definidos, se quisermos realizar um objetivo moral.

Para Comte-Sponville, o capitalismo não é moral, para o capitalismo ser moral é necessário que a ordem econômica se submeta a princípios de funcionamento que lhe são estranhos. A economia é regida pela eficiência e produtividade em vista do acúmulo de lucro, o que, na maioria das vezes, é incompatível com princípios morais.

O capitalista, por exemplo, não pode ter veleidades de solidariedade social diante das pressões da concorrência com outros capitalistas. Se sua empresa apresenta constantemente maus resultados, ele não hesita em dispensar seus empregados, sob pena de acumular prejuízos e ir à falência. Manter seus funcionários empregados em nome da dignidade deles e de suas famílias colocaria em risco os próprios negócios. Por isso, é obrigado a obedecer à lógica econômica, sacrificando os princípios morais, ainda que deseje cultivá-los.

Devemos então nos conformar à realidade econômica como ela é e abandonar nossas aspirações éticas de solidariedade, dignidade humana, respeito mútuo etc.? Devemos nos conformar à exploração econômica, à lógica do lucro que coloca a produtividade cega acima da necessidade humana, que exige o consumo desenfreado dos recursos naturais, responsável pelos desequilíbrios ambientais do planeta?

Como a economia, a moral e a política podem se relacionar para a formação de uma nova ética para o novo milênio? Precisa-se criar o novo Homo Político-Ethos-Econômico. Exigir do capitalismo igualdade e liberdade não significa querer submeter à economia aos imperativos da moral, e impor-lhe princípios que lhe são estranhos, mas apenas exigir que cumpram os pressupostos de justiça que já traz dentro de si. Para que as aspirações de justiça da humanidade superem definitivamente seu caráter abstrato carecem ainda de que se indiquem os meios práticos de sua realização.

Para que a reivindicação moral se torne legítima e não ideológica, ela deve ser capaz de articular-se com a política, mesmo que a política se encontre fora do partido, do sindicato etc. Ou seja, a ética moral de uma justiça social em uma economia capitalista só pode ser construída a partir de uma ação política prática. O homem é um animal político por necessidade da manutenção equilíbrio de uma sociedade. A sociedade se materializa e se torna contínua pela ação política de seus cidadãos.
Fonte: Filosofia : estética e política, volume 3 / organizadores Marcelo Carvalho, Gabriele Cornelli. -- Cuiabá, MT : Central de Texto, 2013.



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