Uma
vida prazerosa não é o prazer pelo prazer, à busca incontida de prazeres
fugazes. Mas um sentido mais elevado de prazer, que leva a virtude. Possuir e
não ser possuído, dominar os prazeres e não deixar-se dominar por eles, como
também não abster-se deles. Conforme Stobeu, “dominar o prazer, não quem se abstém, mas quem, sem deixar-se arrastar
por ele, saber usar dele”.
O
mundo contemporâneo é um mundo refratário à dor, e todo tipo de perturbação da
alma humana. O desiquilíbrio é evitado a todo o momento, para que não se
instale uma crise. O prazer vivido no seu sentido humano, onde edifica e não subjuga,
faz do homem um sábio capaz de bastar-se a si mesmo, dominar seus desejos e
subjugar os prazeres, para atingir o bem e a liberdade.
O
homem deve buscar prazer no trabalho, na fadiga, e quando o encontrar, sentirá
desagradáveis os prazeres comuns. Ter um ideal de autarquia, a possibilidade de
poder estar em companhia de si mesmo. A civilização gera a preguiça e todos os
vícios, o Homem do século XXI é o Homo Naturalis que retorna a natureza,
conquista a sua liberdade interior, uma vida ausente de riquezas, que por
maiores que sejam não são capazes de comprar a natureza humana, a própria
essência.
O
prazer tem que ser uma finalidade da virtude, o prazer decorre do gozo
repousado do corpo, mas, especialmente, do prazer do espírito. O prazer é um
movimento suave, enquanto a dor é movimento áspero. Só a sabedoria e a
prudência podem atingir à tranquilidade e ao repouso, bases do prazer. É
preciso evitar os prazeres que são causa de dor.
Embora
o prazer seja individual, a satisfação que nos dá a aproximação dos homens, é à
base da sociedade, porque a fundamenta por solidarizar os homens nas relações
entre si.
O
homem não sabe viver sem prazer, é pelos sentidos que direciona a sua própria
atuação no mundo sensível. A ética do Homo Naturalis deve fundar uma moral do
prazer, onde tudo é permitido, mas nem tudo convém.
Pelos sentidos e pela razão deve
mensurar o que deve ser experimentado e vivido, para assim alcançar a
felicidade plena.
Segundo
Heráclito, nós não podemos nos banhar duas vezes no mesmo rio. Ou seja, a vida
é uma só, o tempo passa é não é o mesmo no futuro, tudo passa, tudo muda, é a
possibilidade da transformação. A Persona Humanus é livre, sempre tem a
oportunidade de construir o seu próprio futuro, o destino. Por ser tão rápida e
contínua a mudança, não repetimos os momentos da vida. Apenas tornamos semelhante
o que queremos repetir, mas jamais o mesmo.
O
homem não tem a capacidade de obter um conhecimento estável e válido quando os
fenômenos são mutáveis, tanto como as sensações. Mas podemos conhecer conceitos
capazes de formular uma ciência firme e segura das essências universais, as
Ideias. A antítese entre o mundo dos fenômenos, formados pelos dados da
sensibilidade e o mundo das substâncias, das essências, ao qual atingimos por
intermédio da indução e da definição. As coisas sensíveis são sombras das
ideias.
O
Ser, criador e ordenador do cosmos, segundo um arquétipo eterno,
incriado com harmonia e proporção, dotado de uma alma universal que penetra em
todas as coisas, princípio da vida, da razão e da harmonia, criada segundo as
regras dos números, e que, em si, continha todas as relações harmônicas.
A
matéria é o contrário das ideias. É o não-ser, negatividade, indeterminação,
informe, por isso plástica para receber todas as formas, receptáculo, como
vazio e o espaço.
A
alma humana é a essência do corpo, tem a natureza das ideias, simples,
invisível, imutável. E a alma é o princípio do movimento e da vida, é imortal.
O bem divino, idêntico ao belo e ao verdadeiro, é a espiritualidade. A alma,
prisioneira do corpo, deseja libertar-se para contemplar o bem divino. A
libertação se faz pela purificação e a elevação contínua a uma espiritualidade
divina, o amor é a aspiração à espiritualidade pura.
O
mundo sensível é o reflexo do esplendor das ideias e o caminho para a
contemplação dos estágios mais altos da beleza espiritual pura; e é com o
esforço constante da vontade que permite a conquista dessa purificação das
paixões, que é a virtude.
O
sentido do prazer na vida humana é a purificação das paixões, e a conquista das
virtudes e a maior delas é a justiça. Só assim o homem terá uma harmonia
espiritual e será feliz. Fazer o bem é estar próximo do bem, quando não está
imerso no Sumo Bem.
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