O desafio maior está em
manter uma atitude filosófica ante os problemas colocados pela filosofia do
ensino da Filosofia. O homem como animal racional de buscar atender a dois
pressupostos da Filosofia: um pressuposto teleológico (como fim a ser
alcançado) ou como um pressuposto metodológico (como meio de se filosofar).
O
ser humano tem uma boa vontade natural para o pensar, e desenvolve uma boa
natureza do pensamento. O filósofo é aquele que pensa, é guiado pelo exercício
de pensar. A busca do verdadeiro.
Segundo
Deleuze:
“O homem pensa, de que pensar se
constitui como exercício natural de uma faculdade e de que, de fato, existe no
homem uma boa vontade para o pensamento. Segundo ele, pressupor que o pensar
faz parte da natureza humana parece dar ao homem não só a possibilidade de
encontrar o verdadeiro, mas também uma afinidade natural com a verdade.”
O
pensar é a busca de soluções para os problemas dados. O professor deve
estimular o aluno na prática do pensamento, fazer perceber que muitos dos
problemas que vivemos poderiam ser resolvidos se tivesse uma prática filosófica
para com o problema. É tão importante que Deleuze completa:
“Fazem-nos
acreditar, ao mesmo tempo, que os problemas são dados já prontos e que eles
desaparecem nas respostas ou na solução; sob este duplo aspecto, eles seriam,
de início, nada mais que fantasmas. Fazem-nos acreditar que a atividade de
pensar, e também o verdadeiro e o falso em relação a esta atividade, só começam
com a procura de soluções, só concernem às soluções.”
Os
problemas já dados têm uma origem, em um momento do tempo foram pensados e
materializados pela ação humana. Um questionamento metodológico e lógico pode
minimizar os efeitos dos problemas. A filosofia é devedora de uma atitude comum
que normalmente é utilizada para responder às perguntas difíceis de serem
respondidas. Para Deleuze:
“Muitas vezes,
quando nos é colocada uma pergunta para a qual não se tem resposta, utilizamos
o subterfúgio de invalidar a pergunta, considerando que o modo correto de
colocá-la deveria ser outro.”
Os
problemas são apresentados em função das respostas, das suas possíveis
respostas, prováveis ou esperáveis. Kohan (2003, p.222), comentando Deleuze,
observa que:
“A imagem
dogmática apenas consegue construir as interrogações que as possíveis respostas
permitem suscitar. Sob esta imagem, só se pergunta o que se pode responder.
Considera-se que pensar tem a ver com encontrar soluções – já prefiguradas –
aos problemas colocados em função de tais soluções e que os problemas
desaparecem com suas soluções. Assim, se situa o problema como obstáculo e não
como produtor de sentido e de verdade no pensamento.”
O
conflito surge na percepção de que os problemas e as soluções têm a mesma
natureza. A diferença entre eles consiste apenas no modo de enunciação: o modo
interrogativo (no caso dos problemas) e o modo explicativo ou proposicional (no
caso das soluções). Partindo dessa análise, Deleuze afirma que os problemas e
as soluções não podem ter a mesma natureza apesar de estarem intrinsecamente
ligados. Os problemas não são dados, são inventados e reinventados no movimento
de problematização.
O
ensino de filosofia tem que ser capaz de motivar o aluno a aprender. “Aprender
é o nome que convém aos atos subjetivos operados face à objetividade do
problema” (Deleuze, 1968, p.213-14). Não basta saber, tem que aprender a fazer.
O saber pode ser adquirido com a leitura e assimilação das informações. O
aprender a fazer é a busca pela unidade da representação, pela universalidade
dos conceitos, pelo uso correto da razão, pela boa vontade do pensamento e do
pensador, é a prática da filosofia maior. A filosofia menor não combate as
relações de força aglutinadoras da repetição do mesmo problema, das mesmas soluções.
A filosofia menor é, assim, uma política de resistência aos padrões instituídos
do filosofar, do aprender e do ensinar. O ensino da filosofia vinculam-se a
esse modo de filosofar.
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