O
Brasil tem uma falência de seu sistema político, este se tornou incapaz de
criar conceitos, propostas, visões de mundo dos quais tenha a aprovação da
sociedade brasileira. Ela está sendo governada por líderes que não representam
o desejo democrático da população. As reformas estão sendo implementadas por
uma elite política que atende apenas os interesses de uma elite econômica. O
discurso político não traz em sua essência uma verdade que crie e modele uma
ação ideológica por parte dos partidos políticos. Onde está a verdade?
“A verdade é deste
mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos
regulamentados de poder. Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua política
geral de verdade: isto é, os tipos de discurso que ela acolhe e faz funcionar
como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os
enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros; as
técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o
estatuto daqueles que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro.”
(FOUCAULT, 2015, p. 52)
Qual
é a verdade do mundo da sociedade brasileira? Em um poder que não tem
legitimidade política para fazer reformas na sociedade. Sob este aspecto
podemos entender que a sociedade brasileira está em um regime de mentira, e o que
prova esta tese é a aversão da sociedade à política e seus representas eleitos.
O discurso emitido por nossos líderes não são acolhidos pela sociedade e não
funcionam como verdadeiros. Os mecanismos e instâncias que poderiam distinguir
os enunciados verdadeiros dos falsos estão corrompidos, incapazes de
influenciar e mobilizar o povo. Existe a carência de um líder, uma instituição política,
democraticamente eleita, que tenha a capacidade de dizer o que funciona como
verdadeiro. O Brasil está sem liderança democrática, não há ideologia a ser
seguida, por falta de debate político.
“Em nossas
sociedades, a economia política da verdade tem cinco características historicamente
importantes: a verdade é centrada na forma do discurso científico e nas
instituições que o produzem; está submetida a uma constante incitação econômica
e política (necessidade de verdade tanto para a produção econômica, quanto para
o poder político); é objeto, de várias formas, de uma imensa difusão e de um
imenso consumo (circula nos aparelhos de educação ou de informação, cuja
extensão no corpo social é relativamente grande, não obstante algumas
limitações rigorosas); é produzida e transmitida sob o controle, não exclusivo,
mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos ou econômicos
(universidade, exército, escritura, meios de comunicação); enfim, é o objeto de
debate político e de confronto social (as lutas ideológicas).” (FOUCAULT, 2015,
p. 52)
Qual
é a economia política da verdade vigente no Brasil ? Existe um discurso científico
e instituições que produzam verdades ? Como podemos realizar políticas públicas
democráticas que venham a atender o interesse da sociedade ? Não há uma verdade
para a produção econômica e o poder político vigente. As eleições previstas
para o ano de 2018 representam a oportunidade de um debate político de confronto
social, permeada por lutas ideológicas. O combate será pela verdade, ou em
trono de uma verdade, uma visão de mundo que lidere os anseios da população
brasileira. A legitimação de um poder constituído pela participação popular.
“O que faz com
que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só
como uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz
ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede
produtiva que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância
negativa que tem por função reprimir.” (FOUCAULT, 2015, p. 45)
Referência:
FOUCAULT,
Michel. Microfísica do poder. Organização, introdução e revisão técnica de
Roberto Machado. – 3 ed. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.