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sábado, 8 de agosto de 2015

Educação Sem Privilégio !

A escola brasileira é uma instituição que corporifica ideias e aspirações sociais do povo, a situação educacional brasileira reflete a forma como a nossa elite politicamente e economicamente dominante se preocupa com o desenvolvimento da grande maioria do povo brasileiro. Demonstra as razões que indicam os baixos índices de aproveitamento escolar, ou seja, as baixas notas que os alunos do ensino público obtêm nas avalições do MEC – Ministério da Educação. Tendo como causa fundamental a desvalorização do professor, profissional da educação, e as políticas públicas voltadas para a educação do ensino fundamental e médio.
Para analisarmos mais profundamente a situação educacional brasileira, o ponto de partida comum é o exame da educação escolar antes de se estabelecerem as aspirações modernas da escola universal para todos, proclamada na Convenção Revolucionária Francesa, que determina um novo estágio da humanidade, é uma nova concepção de sociedade em que privilégios de classe, de dinheiro e de herança não existem, onde o indivíduo pudesse buscar pela escola, a sua posição na vida social.
“Desde o começo, a escola universal era algo de novo e, na realidade, uma instituição que, a despeito da família, da classe e da religião, viria a dar a cada indivíduo a oportunidade de ser na sociedade aquilo que seus dotes inatos, devidamente desenvolvidos, determinassem. Assim a educação escolar passou a visar, a formação comum do homem, e sua posterior especialização para os diferentes quadros de ocupações, em uma sociedade moderna e democrática. Com a criação da nova escola comum para todos, em que a criança de todas as posições sociais iria formar a sua inteligência, vontade e caráter, hábitos de pensar, de agir e de conviver socialmente. Esta escola formava a inteligência, mas não formava o intelectual. O intelectual seria uma das especialidades de que a educação posterior iria cuidar, mas que não constitui objeto dessa escola de formação comum a ser, então, inaugurada.”
TEIXEIRA, Anísio, 2007, pág.44
Vejamos que, a busca de uma escola universal para todos começa na França no séc. XVIII e no Brasil esta busca de uma escola universal para todos começa no séc. XX. E devemos questionar, até que ponto as políticas públicas da educação brasileira são capazes de possibilitar ao indivíduo a oportunidade de ser na sociedade aquilo que seus dotes inatos, devidamente desenvolvidos, determinem. Parece-me que o Brasil está atrasado e as políticas públicas da educação não têm o foco necessário para promover a existência de uma sociedade mais justa e igualitária em oportunidades. Estes novos conceitos e aspirações do séc. XVIII na França ainda não se concretizaram imediatamente no Brasil, e já estamos no séc. XXI.
Mas antes houve uma revolução no ensino no final do séc. XVI, a escola (tradicional) era a oficina do conhecimento racional, a oficina era a escola (tradicional) do conhecimento prático. Uma não conhecia a outra. Com a aproximação entre estes dois mundos, com a transformação completa de um e de outro, dá-se o aparecimento da ciência experimental. Com o encontro entre o intelecto e a oficina é que partiu todo sistema de conhecimento científico moderno. É a ligação do conhecimento racional com a realidade concreta do mundo e da existência. A separação entre o prático e o racional ou o prático e o teórico desapareceram. Todo o conhecimento, em todas as suas fases, passou a ser prático, tanto em seus objetivos quanto em seus métodos. Assim desaparecem as diferenças entre os homens que estejam pesquisando, ensinando ou aprendendo, ou aplicando o conhecimento, no que diz respeito às suas atividades, todas elas materiais e práticas.
A escola se constitui em agência de educação do novo homem comum para uma sociedade de trabalho científico e não empírico, prepara trabalhadores para três fases do saber: A pesquisa, o ensino e a tecnologia. Todos teriam tudo em comum, exceto o gosto diferenciado por uma das fases.
Se fizermos um paralelo com o séc. XXI, podemos fazer as seguintes perguntas: Em que medida a escola constitui uma agência de educação do homem comum e contemporâneo? Vivemos a era da informação e conectividade, o conhecimento científico está ao alcance das mãos, basta ter um computador conectado na internet. A educação do séc. XXI ministrada aos alunos contemporâneos é estimulante e atende as suas necessidades? Até que ponto os prepara para a realidade da vida? A sociedade estará preparada para dar as respostas certas para os desafios futuros?
Parece-me, que estamos no fim de uma era, a educação ministrada até momento presente sofrerá uma grande transformação, para lida com as novas realidades, tecnologias e possibilidades. Por exemplo, como iremos nos educar, quando pudermos fazer um implante cerebral de um chip de computador? Como iremos lidar com a nanotecnologia e a revolução biológica que teremos? Como iremos lida com a cibernética avançada? A cibernética é uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres vivos e grupos sociais através de analogias com as máquinas eletrônicas. Como o homem irá educar um Ciborgue, o homem máquina? Um Ciborgue é um organismo cibernético, isto é, um organismo dotado de partes orgânicas e cibernéticas, geralmente com a finalidade de melhorar suas capacidades utilizando tecnologia artificial. Estes e mais outros são os desafios que estão a nossa frente, a pergunta é: O homem comum está sendo preparado para os desafios do futuro, que se apresentam no presente?
A educação deixou de ser a atividades de alguns para ser a atividades de todos. A escola é uma instituição que se transforma em uma agência de educação dos trabalhadores comuns, dos trabalhadores qualificados, dos trabalhadores especializados em técnicas de toda ordem e dos trabalhadores da ciência nos seus aspectos de pesquisa, teoria e tecnologia. Todas as escolas, do nível primário ao universitário, passaram a ser dominantemente escolas de ciências, já ensinando suas aplicações generalizadas, já as suas teorias especializadas, já o próprio trabalho de pesquisa, seja no campo teórico, seja no campo da aplicação.
É uma revolução educacional, a partir deste novo paradigma a sociedade educada passa a ser uma sociedade científica. Passa a valorizar tudo que tem uma utilidade prática conforme o uso da razão. O ensino se faz pelo trabalho e pela ação, e não somente pela palavra e pela exposição, como outrora, quando o conhecimento racional era de natureza especulativa, e destinado à pura contemplação do mundo.
Sendo este o modelo de escola adequado, até que ponto o sistema educacional brasileiro se aproxima deste modelo?
No Brasil há ilhas de excelência, não é o padrão do sistema de ensino brasileiro. Alguns cursos técnicos profissionalizantes, alguns cursos universitários se aproximam deste modelo vigente. Mas percebo que estamos diante de uma nova fronteira do conhecimento, a evolução tecnológica irá criar um novo modelo de educação. A informação estará disponível e será acessada automaticamente com a ajuda da robótica, e a questão será: O que faremos com a informação que viermos a conhecer? Este será um dilema filosófico e até ético, que têm por princípio fundamentar a conduta moral do homem. Que tipo de sociedade o homem irá construir? Uma sociedade da informação, do conhecimento e da ação fundamentada em princípios? O homem passará a ser educado para a ação? Pois o conhecimento já estará disponível e de fácil acesso? Olhando para frente, o futuro é a resposta a estas questões do presente, que são atuais e moldarão a vida humana.
No presente o modelo educacional brasileiro poderia ser muito bem empregado na Idade Média. Onde a atividade escolar consiste em “aulas”, que os alunos “ouvem”, algumas vezes tomando notas, e “exames” em que se verifica o que sabem, por meio de provas escritas e orais. Marcam-se alguns “trabalhos” para casa e na casa se supõe que o aluno “estuda”, o que corresponde a fixar de memória quando lhe tenha sido oralmente ensinado na aula. O modelo educacional brasileiro está obsoleto, não é capaz de atender as demandas do presente e nem projetar uma alternativa para o futuro. Está aprisionado em um sistema que precisa melhorar sofrer uma reforma pedagógica. Devemos voltar a fazer as seguintes perguntas: O que é ensinar? Oque é estudar? O que é aprender? E quando se está formado? Até que ponto o ensino brasileiro prepara para a vida?
A escola brasileira vive uma crise, são arcaicas nos seus métodos e ecléticas, se não enciclopédicas, nos currículos, não são de preparo verdadeiramente intelectual, não são práticas, não são técnico-profissionais, nem são de cultura geral, então: O que é a escola brasileira? Ser educado escolarmente significa, no Brasil, não ser operário, não ser membro da classe trabalhadora.
A educação de qualidade é um processo educativo seletivo, destinado a retirar da massa alguns privilegiados para uma vida melhor, se fará possível exatamente porque muitos ficarão na massa a serviço dos “bem educados”, e então o sistema funciona, exatamente por não educar bem a todos, mas somente uma parte. A educação de qualidade é um privilégio de poucos.
A ideia de escola comum ou pública, nascida com a Revolução Francesa, a maior invenção social de todos os tempos, que importa sobrepor-se ao conceito de classe e promover uma educação destinada a todos os indivíduos, sem a intenção ou o propósito de prepará-los para quaisquer das classes existentes é uma utopia no Brasil. A escola comum, a escola para todos, nunca chegou entre nós a se caracterizar, ou a ser de fato para todos. A escola de qualidade é para a chamada elite.
Mas este dualismo escolar entre os favorecidos ou privilegiados e os desfavorecidos ou desprivilegiados pode entrar em crise, com a formação de uma consciência comum de direitos em todo povo brasileiro, deparamo-nos com um sistema escolar de todo inadequado para lidar com o verdadeiro problema educativo de um povo uno e indiviso.
Há a necessidade de se fazer uma reforma na política educacional, é dever do governo, dever democrático, dever constitucional, dever imprescritível, que é oferecer ao brasileiro uma escola fundamental capaz de lhe dar a formação fundamental indispensável ao seu trabalho comum, uma escola média capaz de atender à variedade de suas aptidões e das ocupações diversificadas de nível médio, e uma escola superior capaz de lhe dar a mais alta cultura e ao mesmo tempo, a mais delicada especialização. As autoridades são responsáveis por propor uma reforma no sistema educacional brasileiro, tem que olhar para frente, procurar entender o impacto das novas tecnologias na educação brasileira, propor uma política educacional de vanguarda, que vislumbre o futuro, que possibilite a sociedade dar um salto e superar o abismo existente no sistema educacional brasileiro. Uma educação comum e igual para todos, é uma educação sem privilégios. É o maior objetivo a ser alcançado.


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