Segundo Juan Domingo Sánchez Estop, ativista
do Podemos espanhol e filósofo pela Universidade Complutense de Madrid. “Estamos ante um brutal cenário de luta de
classe na Grécia. A coisa vai desde a sabotagem econômica em grande escala, com
o fechamento forçado de bancos e a invalidação de cartões de crédito, até o
terror social microfísico. Estamos ante um ambiente em que quem vem cortando
brutalmente as aposentadorias e os salários diz abertamente que vai continuar a
fazê-lo e ainda por cima acusa o governo grego de ser quem coloca em perigo os
rendimentos dos cidadãos. Estamos ante um ambiente em que os grandes e pequenos
patrões ameaçam te despedir se o “não” vence. Aqui, em Thasos, disseram a muita
gente que trabalha no comércio, em postos de gasolina e noutros negócios que
dependem do fornecimento contínuo de mercadorias que elas tirassem folga hoje
e, se o “não” vencer, que não voltassem mais. Todos os capitalistas, dos
maiores aos menores, estão em pé de guerra e exigem que se pague a dívida e se
agrave a austeridade, para assim tornar o valor de mercado da força de trabalho
ainda mais barato para eles próprios!
As
grandes mídias mentem sem parar: dizem que amanhã não haverá mais nenhuma
liquidez nos bancos, que a Grécia sairá do euro, da União Europeia e até do
sistema solar. Dizem que haverá um corte em mais de 30% das contas de poupança
com mais de 8.000 euros depositados, que não haverá nada nos supermercados, que
amanhã não terá sequer pão, e que a Syriza quer instalar um regime
latino-americano na Europa, quando na verdade os únicos que funcionam como uma
oligarquia latino-americana antipática à democracia são os da troika interna e
sua base social pitonisa: a burguesia vulgar, dependente e colonial. A direita
grega, incluído aí o Partido Socialista (PASOK), agem como cobradores em nome
de agiotas, ilegais e ilegítimos. São os vende-pátrias, como na Espanha ou Venezuela.
Apesar
de tudo isso, a gente grega mantém o sangue frio. É o que mais chama a atenção.
A concentração na Praça Syntagma anteontem foi histórica, colossal: um povo a
defender um governo que se misturava com a multidão, com a gente. Varoufakis é
o único ministro da economia na Europa que pode atravessar uma multidão
recebendo mãos estendidas, beijos, abraços e palavras de encorajamento. Alexis
Tsipras, entre a sua gente, a nossa gente, está como um peixe n´água. Há um
grande orgulho neste povo, uma enorme dignidade. Ele merece ganhar das forças
obscuras da chantagem e do poder oligárquico.
Aconteça
o que acontecer, passada a alegria se o OXI (“não”) vencer, ou a tristeza se
for o contrário, tudo será muito difícil amanhã para a maioria aqui. Será
preciso seguir lutando na Grécia e no restante da Europa, porque se é verdade
que o OXI salva o governo popular de Tsipras, amanhã os trabalhadores gregos
seguirão tendo um governo, mas ainda sem o poder suficiente para mudar as
coisas.
Ter
um governo é importante, se com isso é possível mudar muitas coisas e ir
transformando as leis a nosso favor, mas a gente da Grécia não precisa ter lido
Walter Benjamin para saber que, enquanto os oprimidos não liquidarem a sua
condição de oprimidos, eles viverão num estado de exceção permanente, em que
governos legítimos e leis importam quase nada diante da realidade da ditadura
de classe, das classes capitalistas. É essa ditadura que precisamos tirar de
cima de nós se realmente quisermos democracia e liberdade.
O
OXI grego pode ser um passo importante, mas precisamos também ganhar noutros
países da Europa. Rogo por isso a todos os meus amigos e companheiros de
Podemos e a todas as forças de resistência que deixem de apostar em velhos
caciques e partidos e deem a palavra à gente, a ela que nutre uma necessidade
vital de vencer e sair deste maldito estado de exceção com a cabeça erguida,
como pessoas livres e cidadãos dignos, como nossos irmãos e irmãs da Grécia.”
Fonte: 07/07/2015 - Dom Total !
Estamos diante de um novo cenário
econômico, o modelo neoliberal do capitalismo vigente demonstra não ser
sustentável em longo prazo, pois não é capaz de proporcionar distribuição de
renda e justiça social. O modelo de espoliação das classes menos favorecidas
que sempre ocorreu nos países periféricos do globo terrestre, agora está
presente nos países centrais do primeiro mundo. Ou seja, existem a criação de mais
pobres no primeiro mundo.
O que podemos esperar de resultado a
longo prazo?
Enquanto a sociedade não faz uma escolha
de mudança de paradigma “econômico”, esta mesma sociedade continuará sofrendo
as mazelas da dinâmica do neoliberalismo capitalista. Ou seja, a dor de se
viver a cada dia tornará mais intensa e aguda. O exemplo do não da Grécia é um
não a dor de viver a cada dia. É uma atitude reativa a esse cenário econômico
que se materializou no país.
“O
medo do desconhecido tornou-se menor
do
que o medo do momento presente.”
(Kelmer Reis
Figueiredo)
O problema é mais profundo, envolve uma
estratégia geopolítica, que pode contagiar as formas de negociação dos desiquilíbrios
fiscais na zona do euro por parte de outros países, como Portugal, Espanha e
Itália.
Que o mundo não é perfeito todos nós
sabemos, e que a injustiça econômica e social recai sobre os mais fracos,
também todos nós sabemos. O desafio está em criar um modelo mais justo e sustentável,
que aparentemente não é o neoliberalismo capitalista. O que está em crise não é
a Grécia, mas o modelo econômico vigente, que privilegia o mercado financeiro,
ao utilizar das economias países para salvar o neoliberalismo capitalista. Onde
não respeita a soberania política existente em cada país. Hoje vemos o trator
do mercado financeiro atropelando milhões de pessoas, ao estimular políticas de
austeridade, que não são capazes de produzir um resultado efetivo para estas
pessoas, ou seja, na sociedade. O que ocorre é um processo de acumulação
financeira na mão de minorias, e um empobrecimento de uma maioria, o que em
longo prazo irá gerar uma luta de classes, entre ricos e pobres.
Devemos perguntar:
O que o neoliberalismo capitalista está
construindo?
Caminhamos para uma destruição, onde
depois teremos margem, para a construção de uma nova lógica econômica. A
questão é:
Quem sairá vivo desse processo perverso de
desenvolvimento e crescimento?
A sociedade cientificamente evoluiu
muito, mas ainda não encontramos uma resposta justa e sustentável para
constituição de uma sociedade saudável.
Cabe a sociedade ter a coragem de buscar
uma alternativa viável, mesmo que signifique a ruptura com o modelo econômico vigente.
“Quem vive
temeroso nunca será livre.”
(Horácio)
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