“Uma
queda brusca e aparentemente sistêmica da Bolsa de Valores da China levou o
Banco Central do país a intervir, suspendendo a negociações das ações de 1476
companhias, depois de chegar a operar em baixa de 8% e fechar em queda de 5.9%.
Para
se ter uma idéia, as ações que tiveram negociação suspensa devido às quedas de
valores formam, no total, um valor de US$ 2.6 trilhões (cerca de R$8.3
trilhões), o equivalente a 25% do PIB chinês ou pouco mais do que o PIB
brasileiro num ano. Por conta do tamanho gigantesco de sua economia, uma queda
violenta da bolsa chinesa espalha o terror ao redor do mundo pelo potencial de
poder criar uma crise global. O país é o maior consumidor mundial de
matérias-primas e produtos primários e uma crise severa em sua economia pode
despencar mercados de inúmeros produtos e 'commodities' como minério de ferro e
petróleo, por exemplo.
A
queda da Bolsa depois de um pico em junho já fez com que as ações das empresas
listadas em Xangai perdessem cerca de US$3 trilhões (R$9.5 trilhões). Para
conter o pânico, além de uma injeção de cerca do equivalente a R$155 bilhões,
também tomou medidas para que os maiores investidores chineses (as grandes
redes de varejo) tirem seu capital da Bolsa.
Segundo
o Financial Times, gigantes financeiros como o HSBC e a Goldman Sachs fizeram
ligeiros rebaixamentos da avaliação dos títulos da China, mas a incerteza para
os próximos dias permanece em alta.
As
bolsas asiáticas fecharam em forte queda nesta quarta-feira, em meio a um temor
generalizado dos investidores com o risco de uma bolha nos mercados, alimentado
pela quebra de confiança na eficiência das medidas adotadas pelo governo chinês
para estimular a economia do país.
Desde
novembro do ano passado, a China tem adotado algumas medidas para reduzir os
custos de financiamento e acelerar a economia. A taxa referencial de juros, por
exemplo, foi reduzida quatro vezes, para 4,85%. Tais medidas levaram a Bolsa de
Xangai a uma alta de mais de 100% entre novembro e junho. No entanto, como a economia
real não reagiu com o mesmo entusiasmo, tornou-se crescente o temor de que o
mercado acionário chinês esteja próximo de uma bolha.
Além
disso, há preocupações de que as medidas cada vez mais "desesperadas"
das autoridades para acalmar os investidores estão, na verdade, contribuindo
para aumentar os riscos ao sistema financeiro do país.
"Inicialmente,
a maior parte dos riscos dos mercados estava com as famílias, mas, com as
tentativas de resgate da China, instituições sistematicamente importantes estão
assumindo mais riscos", afirmam os economistas do banco Société Générale.
No
fim de semana, o governo suspendeu o lançamento de algumas ofertas públicas
iniciais (IPOs, na sigla em inglês) e tornou mais fácil para os operadores
pedir dinheiro emprestado para comprar ações. Em vez de um aumento nas compras,
os investidores estão evitando investir no mercado de ações, que contém mais
riscos, e migrando seus recursos para o mercado de títulos, considerado mais
seguro. Como consequência disso, o juro do bônus de 10 anos do governo chinês
caiu para 3,4% no pregão de hoje, de 3,6% no começo do mês.
No
fechamento, o índice Xangai Composto caiu 5,9%, a 3.507,19, com queda acumulada
de 32% desde meados de junho. Em Hong Kong, o índice Hang Seng teve recuo de 5,89%,
a 23.516,56 pontos. Em Taiwan, o Taiex teve baixa de 2,96%, a 8.976,11 pontos.
Na Coreia do Sul, a queda foi de 1,18%, a 2.016,21 pontos.
Na
Oceania, a Bolsa de Sydney caiu 2,0% e levou o índice S&P/ASX 200 a
5.469,50 pontos, pressionado principalmente pela queda do preço do minério de
ferro, de 4,4% no fechamento de ontem, para US$ 49,7 por tonelada, e com
preocupações relacionadas ao impasse entre Grécia e credores internacionais. Em
meio a isso, as mineradoras Rio Tinto e BHP Billiton tiveram baixas de 3,25% e
3,12%, respectivamente. Com informações da Dow Jones Newswires.”
Por: André Ítalo Rocha e Redação Yahoo Notícias |
Estadão Conteúdo
O que estamos presenciando é mais uma contradição
do capitalismo revestido do neoliberalismo vigente, que já não consegue obter
retorno financeiro esperado sob o giro operacional das empresas, ou seja, as
empresas são incapazes de gerar lucros operacionais que justifique o valor das
ações ao nível que são negociadas nas bolsas de valores, e ainda mais, a
distribuição de dividendos suficientes para justificar o investimento nas
empresas.
Criação e geração de riqueza se faz na
operação, com trabalho, produção, venda, e distribuição de riquezas sob a forma
de dividendos e salários justos, capazes de constituir e consolidar a formação
de uma classe média com poder de compra dos bens de consumo duráveis e não
duráveis. Fora deste processo, o que existe é virtual e especulativo, movimento
ampliado e disseminado pelo neoliberalismo. E para obter os retornos
financeiros esperados pelos investidores, ocorreu ao longo das últimas décadas,
uma busca incessante pela redução de custo, via a redução de salários do
trabalhador, para tornar as empresas mais competitivas. Processo nocivo, que
causou o desiquilíbrio econômico de muitos países, que apresentaram
incapacidade de competir, pois existe uma brutal desindustrialização,
empobrecimento, perda de empregos, renda e incapacidade de prosperar no
comércio interno e externo.
Estamos diante de um impasse, até onde a
sociedade vai caminhar nesta direção?
Não existe riqueza sustentável sem
distribuição de renda e oportunidades para todos. A concentração excessiva de
capital na mão de poucos não permite a edificação de uma sociedade justa, mas
sim uma ditadura do capital sobre os ombros de uma maioria desfavorecida. Este talvez
seja o paradigma a ser modificado pelas gerações futuras, o neoliberalismo do
capitalismo vigente está demonstrando esgotamento e é incapaz de apresentar
soluções sustentáveis de longo prazo.
A queda livre da Bolsa da China é um
sinal, que demonstra o esgotamento do neoliberalismo vigente. E como a China
tem um Estado forte, irá intervir até obter uma alternativa para a crise, que
atenda em primeiro lugar seus próprios interesses, limitando a ação do livre mercado
financeiro.
Talvez seja um momento de se colocar os
pés no chão e passar a pisar em terreno firme, os investidores financistas
terão que aprender a viver do lucro operacional das empresas, valorizar os
trabalhadores e desenvolverem políticas salariais, capazes de criar e suportar
a existência de uma classe média com poder de compra para sustentar as vendas e
o lucro das empresas. Como não há cafezinho grátis, também não há consumo sem
renda, para um modelo econômico ser sustentável é necessário que exista uma
massa salarial capaz de movimentar a economia.
As políticas de austeridade implementadas
pelos países, que têm desiquilíbrios fiscais, não apresentam qualquer
alternativa sustentável para o emprego do trabalhador. Significa para o cidadão
comum, desemprego, inflação, juros altos, diminuição da renda, queda do consumo
e desaquecimento da economia, o caos... Quem paga a conta da especulação
financeira é o trabalhador comum.
Para termos um planeta sustentável, a
economia terá que ser sustentável, e necessitará da mão forte do Estado, capaz
de fazer a intervenção necessária para a correção do desiquilíbrio, o livre
mercado financeiro não é sustentável em longo prazo, e não é capaz de
apresentar soluções sustentáveis para o trabalhador comum, para a sociedade.
“A liberdade
responsável é a
liberdade sustentável.”
(Keller Reis Figueiredo)