Segundo Marx e Engels, a
cidade ocidental moderna é resultado da sociedade capitalista, o local da
produção e reprodução do capital. [...] “A história de qualquer sociedade até
nossos dias é a história da luta de classes” (Manifesto Comunista/1848). Sendo
assim, a cidade é formada a partir de uma comunidade social que a partir
daqueles que ocupam o mesmo território geográfico, onde há uma relação de
dependência entre seus membros que torna possível a garantia e a sobrevivência,
ao viverem, trabalharem e realizarem as atividades básicas da vida.
O desenvolvimento e o
crescimento das grandes cidades brasileiras ocorreram a partir do processo de
industrialização tardia, no início do século XX. E com maior ênfase a partir dos
anos 50, onde o Brasil incentiva a indústria automobilística, e constrói uma
infraestrutura nacional de transporte, com ruas, avenidas e estradas que
influenciam no planejamento urbano das grandes cidades. Amplas áreas do solo
foram impermeabilizadas, a especulação imobiliária fez surgir áreas “nobres”
destinadas a população de alta renda que passaram a morar bem, em casas de alto
padrão. Já a população de baixa renda passou a morar em casas de construção
precária e em regiões onde o preço da terra fosse mais baixo. Nesse sentido
faltou políticas públicas que direcionassem o planejamento urbano das grandes
cidades, com o objetivo de promover a inclusão social para todos. O que há na
prática é um mal uso do espaço, elevando o custo dos serviços públicos de
transporte, pois a população passa a ser dependente deste serviço para se
deslocar da casa para o trabalho e do trabalho para a casa. O atual cenário
inviabiliza a escala humana em cidades e bairros planejados, pois a população
se tornar dependente de automóveis, desvalorizando as outras formas de transporte
E para podermos compreender melhor o conceito de escala humana, nós podemos
definir como:
[...] “A escala humana é a expressão que descreve a
organização de uso e ocupação do solo pela qual é possível fazer deslocamentos
a pé ou de bicicleta, reunir geograficamente residência, trabalho, negócios e
lazer sem a necessidade de grandes infraestruturas de mobilidade e respeitar os
usos tradicionais e as feições topográficas do espaço.” (MENEZES, 2020. p. 149)
Foto de Tuca Vieira que mostra
Paraisópolis e prédio de luxo do Morumbi rodou o mundo e virou símbolo da
desigualdade social
O ideal de uma cidade justa
permite ao cidadão, o sujeito a oportunidade de viver na cidade, exercer a sua
cidadania, sendo investido de direitos civis como a liberdade para se
expressar, ser informado, reunir, organizar-se e locomover-se. Exercer os
direitos políticos de ter direito a votar e disputar cargos em eleições livres.
Estar incluído e investido de direitos socioeconômicos, como bem-estar,
segurança social, emprego, renda, a sindicalização e a livre iniciativa.
A cidade de São Paulo está longe
de ser uma cidade que promove a justiça social e a cidadania que garanta os
direitos socioeconômicos para todos os cidadãos. Existem grupos sociais que são
nela incluídos e excluídos. O exemplo que demonstra tal realidade é a foto
imagem do fotógrafo Tuca Vieira que mostra a favela de Paraisópolis de um lado
e edifícios luxuosos da região do Morumbi de outro, formando uma cruel imagem
de antagonismos. Estas são áreas localizadas no município de São Paulo. Existem
bairros dentro do próprio bairro, que apresentam uma grande desigualdade social
demonstrando claramente que há uma enorme diversidade estrutural. Fazendo da
cidade de São Paulo possuidora de duas realidades. A esse respeito Menezes
cita: o caminho para a superação deste desafio passa pela reconstrução de zonas
desassistidas pelo poder público e incluí-las no planejamento da cidade.
A valorização do bairro de uma
cidade pode ser feita a partir dos princípios da distribuição de renda definido
como:
[...] “Considera-se bairro uma seção da cidade usualmente
tratada pelos cidadãos e pelo poder público como uma unidade assim
identificada, uma coleção de vizinhanças geograficamente próximas que formam
por si só um universo em escala diminuta do que é a cidade no seu todo. O
bairro compreende, em seu interior, residências, comércio, serviços, áreas de
lazer e infraestrutura (que, idealmente, inclui rede viária, elétrica, pluvial,
de esgotamento) e coincide aproximadamente com a área de abrangência dos
equipamentos urbanos ali localizados (escolas, hospitais, corpo de bombeiros,
delegacia de polícia, estações de transporte coletivo etc.) O bairro, com suas
interações e sobreposições, é algo semelhante a uma pequena cidade dentro da
cidade.” (MENEZES, 2020. p. 145)
A rápida inovação digital tem
transformado a economia contemporânea, o que permite a geração de novos modelos
de negócios. Pequenos negócios são abertos com extrema facilidade através do
uso de plataformas digitais, dinamizando o dia a dia das comunidades.
Permitindo o surgimento e o crescimento de uma economia mais solidária, focadas
nos mercados de produção e consumo locais.
Um exemplo bem-sucedido de
transformação local é a rua Carlos Weber, Vila Leopoldina, São Paulo – SP, no
curso de vinte anos foram construídos inúmeros empreendimentos imobiliários,
que gerou uma maior densidade demográfico, o que possibilitou o nascimento e o
desenvolvimento de inúmeros empreendimentos comerciais. As pessoas que residem
nesta rua podem solucionar suas necessidades imediatas sem terem que realizar
grandes deslocamentos. O problema é que este mesmo movimento não ocorre em
áreas onde reside a população de baixa renda, parece haver uma falta de
políticas públicas por parte do Estado, que incentive e viabilize o
investimento da iniciativa privada.
O Brasil tem que fazer das
suas mazelas a oportunidade para crescer e se desenvolver, se reinventar, criar
políticas públicas que atenda todas as classes sociais. O planejamento urbano
de uma cidade deve contemplar a todos, e incentivar e viabilizar a ação da
iniciativa privada. A ação do Capital pode ser integradora e proporcionar uma
maior e melhor qualidade de vida para o cidadão. A cidade do futuro é a cidade
que mais qualidade de vida gera para a sua comunidade. A transformação é
possível e o cidadão deve cobrar do poder público a ação.
O Brasil pode usar do seu
capital natural para recriar as suas cidades, inseri-las no novo modelo de
desenvolvimento sustentável, a “ECONOMIA VERDE”, de base científica
tecnológica, com a geração de renda e emprego para a população. O papel do
Estado é tornar o capital um instrumento integrador, regular a competição e
taxar o lucro, destinando os impostos para políticas públicas que tenham como
objetivo o desenvolvimento sustentável. O problema não está no lucro que o
capital gera, mas onde e como o lucro é destinado. Parte do lucro deve voltar
para a sociedade na forma de bens e serviços, criando um círculo virtuoso.
O século XXI tem que ser
marcado pela superação do antagonismo entre o capitalismo e o socialismo, e
passarem a cooperar através do novo modelo de condução da vida econômica, a
distribuição de renda igualitária, uma economia para além do capitalismo e do
socialismo. A valorização e priorização do pequeno, da cultura local e do mundo
doméstico. Um Estado que cria e projeta uma demanda, e leis que assegure a
livre iniciativa e o respeito dos bens e direitos dos cidadãos.
São Paulo é o que é a partir de uma origem, tem uma história repleta de acertos e erros, que diz o que ela é. Neste momento não cabe olhar para os problemas e não ver uma solução, pelo contrário, olhar para os problemas e ver uma oportunidade. Nesta direção, o “DISTRIBUTISMO” torna-se uma ideologia que apresenta caminhos, não aponta para a direita e nem para a esquerda, mas para frente. A utopia de uma sociedade mais justa, inclusiva e feliz não está morta, cabe as pessoas buscarem a partir de cada um a solução que tanto sonha. Nesse sentido a educação é fundamental e de extremo valor. O Brasil é um país de dimensão continental, rico em recursos naturais, com o potencial de proporcionar ao seu povo uma elevada qualidade de vida, o que falta às pessoas, é buscar a partir da própria realidade, as respostas para os desafios que a vida apresenta.
Fonte:
DA SILVA, Alessandro Garcia e DO NASCIMENTO, Rhuan Reis (orgs). Distributismo: economia para além do capitalismo e do socialismo – 1. ed. – Curitiba: Appris, 2020.
Talvez você seja distributista (e não saiba)