A sociedade do século XXI pode repetir os erros da
primeira metade do século XX com catástrofes políticas, desastres morais, um
surpreendente desenvolvimento nas artes e nas ciências. Os exemplos deste
fenômeno histórico são os protestos sociais presentes nos principais países,
comprovando que existe uma insatisfação generalizada principalmente com a
classe política, incapaz de criar uma pauta que venha atender a necessidade da
maioria, fazendo renascer movimentos de extrema direita com valores e
ideologias capazes de reviver o inaceitável. O aparato tecnológico, sob o
domínio de grupos ultrarradicais, pode representar um autoritarismo tecnológico
na governança da vida do cidadão comum causando um elevado risco para a
democracia representativa e a supressão de direitos civis e humanos do cidadão.
Como tudo pode começar, está narrado por Hannah Arendt, através do poema de
Brecht:
À prosperidade, que cita a desordem e a
fome, os massacres e os carniceiros, o ultraje pela injustiça e o desespero
“quando havia apenas erro e não ultraje”, o ódio legítimo que no entanto conduz
à fealdade, a ira fundada que torna a voz rouca. Tudo era suficientemente real
na medida em que ocorreu publicamente; nada havia de secreto ou misterioso
sobre isso. E no entanto não era em absoluto visível para todos, nem foi tão
fácil percebê-lo; pois, no momento mesmo em que a catástrofe surpreendeu a tudo
e a todos, foi recoberta, não por realidades, mas pela fala e pela algaravia de
duplo sentido, muitíssimo eficiente, de praticamente todos os representantes
oficiais que, sem interrupção e em muitas variantes engenhosas, explicavam os
fatos desagradáveis e justificavam as preocupações. [...] Se a função do âmbito
público é iluminar os assuntos dos homens, proporcionando um espaço de
aparições onde podem mostrar, por atos e palavras, pelo melhor e pelo pior,
quem são e o que podem fazer, as sombras chegam quando essa luz se extingue por
“fossos de credibilidade” e “governos invisíveis”, pelo discurso que não revela
o que é, mas o varre para sob o tapete, com exortações, morais ou não, que, sob
o pretexto de sustentar antigas verdades, degradam toda a verdade a uma
trivialidade sem sentido. (ARENT, 2008, p.7-8)
Uma prosperidade sem princípios que fundamentam um
modo de ser voltado para o bem comum é uma “fealdade”, não há dignidade para a
humanidade. Mesmo que tenha publicidade e seja aparentemente aceita por todos,
mas realmente interpretada e compreendida por poucos, onde decifrar o invisível
e tornar perceptível a todos a verdade é uma necessidade para a sobrevivência
da democracia representativa. No momento, este movimento se faz pelo combate às
“Fake News” que desinforma e confundem a cabeça do cidadão para a tomada de
decisão. Fenômeno possível devido ao mau
uso do aparato tecnológico do séc. XXI por grupos organizados e maus
intencionados. A questão é: Quem são estes grupos? Qual é o real objetivo deles?
Quem os financia? Estão a serviço de quem? Pois o aparato do Estado que cria e
implementa políticas públicas muitas vezes está comprometido com o
“establishment”, ou melhor, o sistema que está a serviço de uma minoria, que
detém o poder político e econômico e não está preocupado com o bem-estar da maioria
e promoção da justiça social.
O representante maior da República Federativa do
Brasil flerta com o autoritarismo, fruto da incapacidade de conviver com a
democracia e seus movimentos institucionais. Respeitar a democracia não basta
estar presente no discurso, mas também tem que estar presente nas atitudes, como
líder da nação deve servir de exemplo para cada cidadão.
Para quem acredita que o pior não pode acontecer, nós
cidadãos brasileiros vivemos tempos sombrios, permeados por “Fake News”, buscamos
a verdade onde estão as sombras. A luz por mais opaca que seja está presente nas
nossas instituições democráticas, o que estiver contrário a este conceito,
representa as trevas, o obscurantismo, o autoritarismo que pode mutar para um
totalitarismo.
O momento político e as manifestações públicas do
nosso representante máximo são de profunda perplexidade, reflexão e atenção,
nossas instituições democráticas devem atuar na defesa do Estado Democrático de
Direito, usar os meios necessários para proteger e garantir o direito de exercício
da cidadania do povo brasileiro.
Bibliografia de consulta:
- ARENDT, Hannah. Homens em tempos
sombrios; tradução Denise Bottmann ; posfácio Celso
Lafer – São Paulo : Companhia das Letras, 2008.
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