Páginas

domingo, 3 de maio de 2020

Flertar com o Autoritarismo!


A sociedade do século XXI pode repetir os erros da primeira metade do século XX com catástrofes políticas, desastres morais, um surpreendente desenvolvimento nas artes e nas ciências. Os exemplos deste fenômeno histórico são os protestos sociais presentes nos principais países, comprovando que existe uma insatisfação generalizada principalmente com a classe política, incapaz de criar uma pauta que venha atender a necessidade da maioria, fazendo renascer movimentos de extrema direita com valores e ideologias capazes de reviver o inaceitável. O aparato tecnológico, sob o domínio de grupos ultrarradicais, pode representar um autoritarismo tecnológico na governança da vida do cidadão comum causando um elevado risco para a democracia representativa e a supressão de direitos civis e humanos do cidadão. Como tudo pode começar, está narrado por Hannah Arendt, através do poema de Brecht:
À prosperidade, que cita a desordem e a fome, os massacres e os carniceiros, o ultraje pela injustiça e o desespero “quando havia apenas erro e não ultraje”, o ódio legítimo que no entanto conduz à fealdade, a ira fundada que torna a voz rouca. Tudo era suficientemente real na medida em que ocorreu publicamente; nada havia de secreto ou misterioso sobre isso. E no entanto não era em absoluto visível para todos, nem foi tão fácil percebê-lo; pois, no momento mesmo em que a catástrofe surpreendeu a tudo e a todos, foi recoberta, não por realidades, mas pela fala e pela algaravia de duplo sentido, muitíssimo eficiente, de praticamente todos os representantes oficiais que, sem interrupção e em muitas variantes engenhosas, explicavam os fatos desagradáveis e justificavam as preocupações. [...] Se a função do âmbito público é iluminar os assuntos dos homens, proporcionando um espaço de aparições onde podem mostrar, por atos e palavras, pelo melhor e pelo pior, quem são e o que podem fazer, as sombras chegam quando essa luz se extingue por “fossos de credibilidade” e “governos invisíveis”, pelo discurso que não revela o que é, mas o varre para sob o tapete, com exortações, morais ou não, que, sob o pretexto de sustentar antigas verdades, degradam toda a verdade a uma trivialidade sem sentido. (ARENT, 2008, p.7-8)
Uma prosperidade sem princípios que fundamentam um modo de ser voltado para o bem comum é uma “fealdade”, não há dignidade para a humanidade. Mesmo que tenha publicidade e seja aparentemente aceita por todos, mas realmente interpretada e compreendida por poucos, onde decifrar o invisível e tornar perceptível a todos a verdade é uma necessidade para a sobrevivência da democracia representativa. No momento, este movimento se faz pelo combate às “Fake News” que desinforma e confundem a cabeça do cidadão para a tomada de decisão. Fenômeno possível devido ao  mau uso do aparato tecnológico do séc. XXI por grupos organizados e maus intencionados. A questão é: Quem são estes grupos? Qual é o real objetivo deles? Quem os financia? Estão a serviço de quem? Pois o aparato do Estado que cria e implementa políticas públicas muitas vezes está comprometido com o “establishment”, ou melhor, o sistema que está a serviço de uma minoria, que detém o poder político e econômico e não está preocupado com o bem-estar da maioria e promoção da justiça social.
O representante maior da República Federativa do Brasil flerta com o autoritarismo, fruto da incapacidade de conviver com a democracia e seus movimentos institucionais. Respeitar a democracia não basta estar presente no discurso, mas também tem que estar presente nas atitudes, como líder da nação deve servir de exemplo para cada cidadão.
Para quem acredita que o pior não pode acontecer, nós cidadãos brasileiros vivemos tempos sombrios, permeados por “Fake News”, buscamos a verdade onde estão as sombras. A luz por mais opaca que seja está presente nas nossas instituições democráticas, o que estiver contrário a este conceito, representa as trevas, o obscurantismo, o autoritarismo que pode mutar para um totalitarismo.
O momento político e as manifestações públicas do nosso representante máximo são de profunda perplexidade, reflexão e atenção, nossas instituições democráticas devem atuar na defesa do Estado Democrático de Direito, usar os meios necessários para proteger e garantir o direito de exercício da cidadania do povo brasileiro.

Bibliografia  de consulta:

- ARENDT, Hannah. Homens em tempos sombrios; tradução Denise Bottmann ; posfácio Celso Lafer – São Paulo : Companhia das Letras, 2008.






Nenhum comentário: