A
sociedade contemporânea do século XXI está valorada pelo capital financeiro,
todas as relações humanas são quantificadas e mensuradas pela sua eficiência e
eficácia, ou seja, a capacidade de gerar um retorno financeiro sob certo capital
investido. É uma realidade que reverbera nas instituições do Estado, tornando o
exercício da cidadania um fardo, onde cada cidadão passa a ser um escravo de
uma determinada lógica, formulada por uma ética liberal, ou melhor, neoliberal.
Entende-se
que a ética liberal, os liberais, na linha de Hobbes, defendem que a política
está desprovida de significação moral, que o Estado não é mais do que um
instrumento destinado a assegurar a coexistência pacífica dos indivíduos numa
determinada sociedade contratualista. Os liberais defendem a prioridade do
"justo sobre o bem", As teorias políticas liberais são inseparáveis
do individualismo moderno ao valorizarem o indivíduo em relação ao grupo social
e por se oporem às visões coletivistas da política que tendem a valorizar o
grupo social e não o indivíduo. A sociedade liberal induz os membros da sua
sociedade a uma atitude individualista, egocêntrica que tem efeitos
desestruturastes sobre a identidade individual e do grupo.
O
individualismo tira força à vida em comunidade, fato que produz um desinteresse
pelas questões do político e da liberdade. Preocupa-se cada vez menos com a
participação pública e fica-se "em nossa casa" a desfrutar dos
prazeres da vida privada, principalmente num tempo em que o Estado nos fornece
os meios para o fazer.
Segundo
os Liberais, os indivíduos não são definidos pelas suas interdependências -
económicas, sociais, éticas, sexuais, culturais, políticas ou religiosas. Os
indivíduos são livres de colocar em questão e de rejeitar qualquer
particulares. São livres de questionar as suas convicções, mesmo as mais profundas.
forma de participação em grupos, instituições ou atividades. O ser humano como
um ser desencarnado, um sujeito sem raízes, descomprometido, mas capaz de
escolher soberanamente os fins e os valores que orientam a sua existência.
Se
o mundo continuar nesta direção histórica, movido pelo neoliberalismo com as
suasr forças sociais, políticas e econômicas, teremos um futuro com grave
desiquilíbrio frente a uma acentuada desigualdade social, o que já está
materializado e pode ser potencializado, pela enorme concentração de renda e riqueza
nas mãos de uma pequena parcela da sociedade. A pergunta a ser fazer é: Qual é
a finalidade da existência humana ?
Para
evitar um mal maior, cabe à sociedade pensar e defender um modelo econômico eticamente
justo, que transforme as relações sociais com base em outro paradigma, a
sugestão é o Comunitarismo. Ao afirmarem que o individualismo é inseparável da
socialização, os comunitaristas pretendem mostrar que o indivíduo livre da
concepção liberal é ele mesmo produto duma forma específica de socialização.
Tanto
do lado dos liberais como dos comunitaristas a liberdade é elevada à classe de
princípio essencial. Ambas as partes sentem que uma sociedade só é justa se os
membros que a compõe aí vivem livremente e, se a finalidade da atividade
política for realizar as condições nas quais essa liberdade é possível.
O
que difere o liberalismo do comunitarismo é a proposta de que o indivíduo seja
considerado membro inserido numa comunidade política de iguais. E, para que
exista um aperfeiçoamento da vida política na democracia, é exigido uma
cooperação social, um empenho público e participação política, isto é, formas
de comportamento que ajudem ao enobrecimento da vida comunitária.
Consequentemente, o indivíduo tem obrigações éticas para com a finalidade
social, deve viver para a sua comunidade organizada em torno de uma só ideia
substantiva de bem comum.
Os
liberais defendem a prioridade do "justo sobre o bem" e os comunitaristas
defendem a prioridade do "bem sobre o justo". No comunitarismo há a afirmação do justo sobre o bem, onde traça a
fronteira entre os pensamentos morais antigos e modernos: os antigos colocavam
a questão de qual o bem, que sendo objeto do meu desejo me levaria à melhor
forma de vida (eudaimonia). Os liberais os modernos preocupam-se com a questão
do justo, isto é, como é que eu devo agir, já não em relação ao meu bem, à
minha felicidade, mas em relação às condições que tornam possível a procura do
bem, conduzida por cada indivíduo (dever).
As
forças do capital financeiro são movidas por pessoas que têm valores éticos que
fundamentam o modo de ser, cabe fazermos a seguinte pergunta: Qual é a alternativa
melhor, o bem ou o justo ? Qual valor ético devemos fundamentar as nossas ações
? Os valores voltados para o indivíduo, ou seja, o neoliberalismo, ou os
valores voltados para a sociedade, ou seja, o comunitarismo. Esta é a escolha
existencial que a sociedade terá que fazer para ter um futuro mais próspero e
justo para todos.
Fragmentos
do artigo:
COMUNITARISMO
OU LIBERALISMO? - Gisela Gonçalves, Universidade da Beira Interior, Setembro
1998.
Nenhum comentário:
Postar um comentário