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domingo, 16 de dezembro de 2018

Doutrina Social da Igreja Católica – 2004 – João Paulo Segundo !





A missão do sujeito, uma vez constituído como cidadão de um Estado Democrático de Direito, é ter uma vida justa voltada para o bem maior da coletividade e que a força do seu testemunho, contribuam para o progresso da humanidade.
A utopia de uma sociedade justa onde todos se realizam de forma plena se realiza na transcendência, mérito dos justos após a morte, mas abrange também este mundo nas realidades da economia e do trabalho, da sociedade e da política, da técnica e da comunicação, da comunidade internacional e das relações entre as culturas e os povos.
Os homens são capacitados a transformar as regras e a qualidade das relações, inclusive as estruturas sociais: são pessoas capazes de levar a paz onde há conflitos, de construir e cultivar relações fraternas onde há ódio, de buscar a justiça onde prevalece a exploração do homem pelo homem.
Tantos irmãos necessitados estão à espera de ajuda, tantos oprimidos esperam por justiça, tantos desempregados à espera de trabalho, tantos povos esperam por respeito: Como é possível que ainda haja, no nosso tempo, quem morra de fome, quem esteja condenado ao analfabetismo, quem viva privado dos cuidados médicos mais elementares, quem não tenha uma casa onde abrigar-se? E como ficar indiferentes diante das perspectivas dum desequilíbrio ecológico, que torna inabitáveis e hostis ao homem vastas áreas do planeta?
A humanidade compreende cada vez mais claramente estar ligada por um único destino que requer uma comum assunção de responsabilidades, inspirada em um humanismo integral e solidário: vê que esta unidade de destino é frequentemente condicionada e até mesmo imposta pela técnica ou pela economia e adverte a necessidade de uma maior consciência moral, que oriente o caminho comum. Estupefatos pelas multíplices inovações tecnológicas, os homens do nosso tempo desejam ardentemente que o progresso seja votado ao verdadeiro bem da humanidade de hoje e de amanhã.
O homem contemporâneo tem que ser capaz de interpretar a realidade de hoje e de procurar caminhos apropriados para a ação, sugerir um método orgânico na busca de soluções aos problemas, de sorte que o discernimento, o juízo e as opções sejam mais consentâneas com a realidade e a solidariedade e a esperança possam incidir com eficácia também nas complexas situações hodiernas. Assim, é possível saber o lugar do homem na natureza e na sociedade, afrontada pelas civilizações e culturas em que se manifesta a sabedoria da humanidade.
O Homem procura dar um sentido à existência e ao mistério que a envolve. Quem sou eu? Por que a presença da dor, do mal, da morte, malgrado todo o progresso? A que aproveitam tantas conquistas alcançadas se o seu preço não raro é insuportável? O que haverá após esta vida? Estas perguntas fundamentais caracterizam o percurso do viver humano.
O significado profundo do existir humano, com efeito, se revela na livre busca da verdade, capaz de oferecer direção e plenitude à vida, busca à qual tais questões solicitam incessantemente a inteligência e a vontade do homem.
A religiosidade representa a expressão mais elevada da pessoa humana, porque é o ápice da sua natureza racional. Brota da profunda aspiração do homem à verdade, e está na base da busca livre e pessoal que ele faz do divino.

          Uma reflexão sobre os fragmentos da Doutrina Social da Igreja Católica.



terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Um contraponto à avassaladora força do capital financeiro !



        A sociedade contemporânea do século XXI está valorada pelo capital financeiro, todas as relações humanas são quantificadas e mensuradas pela sua eficiência e eficácia, ou seja, a capacidade de gerar um retorno financeiro sob certo capital investido. É uma realidade que reverbera nas instituições do Estado, tornando o exercício da cidadania um fardo, onde cada cidadão passa a ser um escravo de uma determinada lógica, formulada por uma ética liberal, ou melhor, neoliberal.

         Entende-se que a ética liberal, os liberais, na linha de Hobbes, defendem que a política está desprovida de significação moral, que o Estado não é mais do que um instrumento destinado a assegurar a coexistência pacífica dos indivíduos numa determinada sociedade contratualista. Os liberais defendem a prioridade do "justo sobre o bem", As teorias políticas liberais são inseparáveis do individualismo moderno ao valorizarem o indivíduo em relação ao grupo social e por se oporem às visões coletivistas da política que tendem a valorizar o grupo social e não o indivíduo. A sociedade liberal induz os membros da sua sociedade a uma atitude individualista, egocêntrica que tem efeitos desestruturastes sobre a identidade individual e do grupo.

         O individualismo tira força à vida em comunidade, fato que produz um desinteresse pelas questões do político e da liberdade. Preocupa-se cada vez menos com a participação pública e fica-se "em nossa casa" a desfrutar dos prazeres da vida privada, principalmente num tempo em que o Estado nos fornece os meios para o fazer.

         Segundo os Liberais, os indivíduos não são definidos pelas suas interdependências - económicas, sociais, éticas, sexuais, culturais, políticas ou religiosas. Os indivíduos são livres de colocar em questão e de rejeitar qualquer particulares. São livres de questionar as suas convicções, mesmo as mais profundas. forma de participação em grupos, instituições ou atividades. O ser humano como um ser desencarnado, um sujeito sem raízes, descomprometido, mas capaz de escolher soberanamente os fins e os valores que orientam a sua existência.

         Se o mundo continuar nesta direção histórica, movido pelo neoliberalismo com as suasr forças sociais, políticas e econômicas, teremos um futuro com grave desiquilíbrio frente a uma acentuada desigualdade social, o que já está materializado e pode ser potencializado, pela enorme concentração de renda e riqueza nas mãos de uma pequena parcela da sociedade. A pergunta a ser fazer é: Qual é a finalidade da existência humana ?

         Para evitar um mal maior, cabe à sociedade pensar e defender um modelo econômico eticamente justo, que transforme as relações sociais com base em outro paradigma, a sugestão é o Comunitarismo. Ao afirmarem que o individualismo é inseparável da socialização, os comunitaristas pretendem mostrar que o indivíduo livre da concepção liberal é ele mesmo produto duma forma específica de socialização.

         Tanto do lado dos liberais como dos comunitaristas a liberdade é elevada à classe de princípio essencial. Ambas as partes sentem que uma sociedade só é justa se os membros que a compõe aí vivem livremente e, se a finalidade da atividade política for realizar as condições nas quais essa liberdade é possível.

         O que difere o liberalismo do comunitarismo é a proposta de que o indivíduo seja considerado membro inserido numa comunidade política de iguais. E, para que exista um aperfeiçoamento da vida política na democracia, é exigido uma cooperação social, um empenho público e participação política, isto é, formas de comportamento que ajudem ao enobrecimento da vida comunitária. Consequentemente, o indivíduo tem obrigações éticas para com a finalidade social, deve viver para a sua comunidade organizada em torno de uma só ideia substantiva de bem comum.

         Os liberais defendem a prioridade do "justo sobre o bem" e os comunitaristas defendem a prioridade do "bem sobre o justo".   No comunitarismo há a afirmação do justo sobre o bem, onde traça a fronteira entre os pensamentos morais antigos e modernos: os antigos colocavam a questão de qual o bem, que sendo objeto do meu desejo me levaria à melhor forma de vida (eudaimonia). Os liberais os modernos preocupam-se com a questão do justo, isto é, como é que eu devo agir, já não em relação ao meu bem, à minha felicidade, mas em relação às condições que tornam possível a procura do bem, conduzida por cada indivíduo (dever).

         As forças do capital financeiro são movidas por pessoas que têm valores éticos que fundamentam o modo de ser, cabe fazermos a seguinte pergunta: Qual é a alternativa melhor, o bem ou o justo ? Qual valor ético devemos fundamentar as nossas ações ? Os valores voltados para o indivíduo, ou seja, o neoliberalismo, ou os valores voltados para a sociedade, ou seja, o comunitarismo. Esta é a escolha existencial que a sociedade terá que fazer para ter um futuro mais próspero e justo para todos.


         Fragmentos do artigo:


         COMUNITARISMO OU LIBERALISMO? - Gisela Gonçalves, Universidade da Beira Interior, Setembro 1998.