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sábado, 23 de abril de 2016

A Genealogia e a História !





A partir de Nietzsche com os termos origem (Ursprung), proveniência (Herkunft) e emergência (Entstehung) avaliam-se os vícios e os erros da cultura histórica moderna, perceptíveis na genealogia e na história. Foucault analisa a constituição da cultura ocidental moderna e suas verdades. O pensamento de Nietzsche destrói o entendimento e enganos acerca das causas e dos efeitos da história, que forjou a verdade dos fatos, dos acontecimentos e das perspectivas tomadas pelos homens. Nietzsche revira os subterrâneos das afirmações verdadeiras acerca do que somos, fazemos e pensamos.
A verdade, espécie de erro que tem a seu favor o fato de não poder ser refutada, sem dúvida porque o longo cozimento da história a tornou inalterável. Friedrich Nietzsche, A gaia ciência, §265 e §110. (FOUCAULT, 2015, p. 60)

Não há como ignorar as dificuldades, os impasses, as atividades subterrâneas das lutas e dos embates que se registram no corpo, o jogo do ganha-se e do perde-se que qualquer ideia, conceito, noção ou princípio proporciona, a partir da sua história. A genealogia na história parte em busca do começo, ela quer descobrir na raiz o que conhecemos e o que somos. A história está registrada no corpo.
O corpo: superfície de inscrição dos acontecimentos (enquanto a linguagem os marca e as ideias os dissolvem), lugar de dissociação do Eu (que supõe a quimera de uma unidade substancial), volume em perpétua pulverização. A genealogia, como análise da proveniência, está, portanto, no ponto de articulação do corpo com a história. Ela deve mostrar o corpo inteiramente marcado de história e a história arruinando o corpo. (FOUCAULT, 2015, p. 65)

Pode-se dizer que a história registrada no corpo é a história da dominação do homem pelo homem, onde se afirma o poder legitimado pelo discurso, através de leis e regras estabelecem mecanismos de vigilância e punição. O poder se apropria da educação para passar sua visão de mundo, sua versão da história, é como se fosse um ritual.
E é por isso precisamente que em cada momento da história a dominação se fixa em um ritual; ela impõe obrigações e direitos; ela constitui cuidadosos procedimentos. Ela estabelece marcas, grava lembranças nas coisas e até nos corpos; ela se torna responsável pelas dívidas. (FOUCAULT, 2015, p. 68)

A humanidade progride de forma violenta, pratica suas violências a partir de um sistema de regras e prossegue de dominação em dominação. É a regra que permite que seja feita a violência. A violência da dominação, para que possa dobrar aqueles que dominam. E todos nós somos educados para cumprir regras, a partir de um discurso dito como verdadeiro.
Em si mesmas, as regras são vazias, violentas, não finalizadas; elas são feitas para servir a isto ou àquilo; elas podem ser burladas ao sabor da vontade de uns ou de outros. O grande jogo da história será de quem se apoderar das regras, de quem tomar o lugar daqueles que as utilizam, de quem se disfarçar para pervertê-las, utilizá-las ao inverso e voltá-las contra aqueles que as tinham imposto. (FOUCAULT, 2015, p. 69)

         As regras reativam o jogo da dominação, elas criam um mundo idealizado, sonhado, faz parte de utopias, as quais são implementadas por um sistema de poder, formuladas a partir de um discurso dominante. Servem como instrumento de formulação de políticas educacionais, voltadas para atender a um propósito. A dominação do homem pelo homem. O homem ao ser educado para cumprir regras torna-se dócil, capaz de ser manipulado pelo discurso, dito como verdadeiro. Este homem age sem consciência, incapaz de refletir sobre seus atos.
O desejo de paz, a doçura do compromisso, a aceitação tácita da lei, longe de serem a grande conversão moral ou o útil calculado que deram nascimento à regra, são apenas seu resultado e propriamente falando sua perversão: “Falta, consciência, o dever têm sua emergência no direito de obrigação; e em seus começos, como tudo o que é grande sobre a terra, foi banhado de sangue.” Friedrich Nietzsche, Genealogia da moral, II, 6. (FOUCAULT, 2015, p. 69)

         A humanidade nos últimos quinhentos anos tem enaltecido os valores humanos, ao colocar o homem no centro do discurso filosófico, abri mão do conhecimento da metafísica, enfatiza o avanço técnico-científico. Por uma postura empírica utilitarista, este mesmo homem cria a sua própria realidade, a qual é moldada pelo desenvolvimento tecnológico. Mas algo parece que não evoluiu, a sua conduta moral, a mesma conduta moral que permitiu a realização de duas guerras mundiais no século XX. E hoje, permite que haja mais de um bilhão de pessoas no mundo passando fome, segundo o Banco Mundial. A ONU denuncia que 1 de cada 9 pessoas sofrem com a fome no mundo. Ou seja, qual é a ética fundante da moral do homem contemporâneo? Se for a ética do sistema econômico vigente, ou seja, do capitalismo na sua versão neoliberal, o homem está construindo a sua própria catástrofe. Há uma falta de consciência, do dever a ser cumprido. A terra é banhada com o sangue de inocentes todos os anos, os subjugados pela imposição do poder dos dominadores. Para termos argumentos que gerem iniciativas para mudarmos a realidade vigente, é necessário que o homem olhe para si e vá além, é a recondução do homem para as verdades metafísicas, que não são de fácil acesso, mas são capazes de produzir um homem mais humano. Não há futuro para quem não é capaz de construir um futuro sustentável. A educação das novas gerações é o ponto fixo de apoio para uma virada antropológica, onde a relação de poder passa a ter uma dinâmica humanista. É a construção de uma ética da alteridade, fundante de uma moral que leve o homem a ver no outro o outro. Afirmar o poder legitimado por um discurso solidário, através de leis e regras que estabelecem mecanismos de vigilância e punição, voltadas para promover o bem estar social e o desenvolvimento sustentável. Educar o homem para assumir a verdade, que esteja presente no discurso e na ação prática.
         Bibliografia:
FOUCAULT, Michel: Microfísica do poder / organização, introdução e revisão técnica de Roberto Machado. – 3. ed. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015.


quarta-feira, 6 de abril de 2016

Deus como Uno !




Conforme a tradição interpreta, para Xenófanes, Deus deve ser concebido como aquele que tudo governa. Se os deuses fossem vários, então todos a tudo governaria, o que implicaria em uma contradição.
“Se Deus é o perfeito dominador de todas as coisas, convém que seja uno. Pois se fosse dois ou vários, não seria o mais dominador e o melhor entre todas as coisas, pois cada um dos múltiplos, sendo Deus, seria de modo semelhante; pois é isso um deus, e a força de um deus consiste em dominar, e não ser dominado, e em ser o dominante perfeito de todas as coisas; logo, enquanto não dominante, nisto ele precisamente não é Deus.”
(DK 28. Melisso, Xenófanes, Górgias)