A escola brasileira é uma
instituição que corporifica ideias e aspirações sociais do povo, a situação
educacional brasileira reflete a forma como a nossa elite politicamente e
economicamente dominante se preocupa com o desenvolvimento da grande maioria do
povo brasileiro. Demonstra as razões que indicam os baixos índices de
aproveitamento escolar, ou seja, as baixas notas que os alunos do ensino
público obtêm nas avalições do MEC – Ministério da Educação. Tendo como causa
fundamental a desvalorização do professor, profissional da educação, e as
políticas públicas voltadas para a educação do ensino fundamental e médio.
Para analisarmos mais
profundamente a situação educacional brasileira, o ponto de partida comum é o
exame da educação escolar antes de se estabelecerem as aspirações modernas da
escola universal para todos, proclamada na Convenção Revolucionária Francesa,
que determina um novo estágio da humanidade, é uma nova concepção de sociedade
em que privilégios de classe, de dinheiro e de herança não existem, onde o
indivíduo pudesse buscar pela escola, a sua posição na vida social.
“Desde o começo, a escola universal era algo de novo e, na
realidade, uma instituição que, a despeito da família, da classe e da religião,
viria a dar a cada indivíduo a oportunidade de ser na sociedade aquilo que seus
dotes inatos, devidamente desenvolvidos, determinassem. Assim a educação
escolar passou a visar, a formação comum do homem, e sua posterior
especialização para os diferentes quadros de ocupações, em uma sociedade
moderna e democrática. Com a criação da nova escola comum para todos, em que a
criança de todas as posições sociais iria formar a sua inteligência, vontade e
caráter, hábitos de pensar, de agir e de conviver socialmente. Esta escola
formava a inteligência, mas não formava o intelectual. O intelectual seria uma
das especialidades de que a educação posterior iria cuidar, mas que não
constitui objeto dessa escola de formação comum a ser, então, inaugurada.”
TEIXEIRA, Anísio, 2007, pág.44
Vejamos que, a busca de
uma escola universal para todos começa na França no séc. XVIII e no Brasil esta
busca de uma escola universal para todos começa no séc. XX. E devemos
questionar, até que ponto as políticas públicas da educação brasileira são
capazes de possibilitar ao indivíduo a oportunidade de ser na sociedade aquilo
que seus dotes inatos, devidamente desenvolvidos, determinem. Parece-me que o
Brasil está atrasado e as políticas públicas da educação não têm o foco
necessário para promover a existência de uma sociedade mais justa e igualitária
em oportunidades. Estes novos conceitos e aspirações do séc. XVIII na França
ainda não se concretizaram imediatamente no Brasil, e já estamos no séc. XXI.
Mas antes houve uma
revolução no ensino no final do séc. XVI, a escola (tradicional) era a oficina
do conhecimento racional, a oficina era a escola (tradicional) do conhecimento
prático. Uma não conhecia a outra. Com a aproximação entre estes dois mundos,
com a transformação completa de um e de outro, dá-se o aparecimento da ciência
experimental. Com o encontro entre o intelecto e a oficina é que partiu todo
sistema de conhecimento científico moderno. É a ligação do conhecimento
racional com a realidade concreta do mundo e da existência. A separação entre o
prático e o racional ou o prático e o teórico desapareceram. Todo o
conhecimento, em todas as suas fases, passou a ser prático, tanto em seus
objetivos quanto em seus métodos. Assim desaparecem as diferenças entre os
homens que estejam pesquisando, ensinando ou aprendendo, ou aplicando o
conhecimento, no que diz respeito às suas atividades, todas elas materiais e práticas.
A escola se constitui em
agência de educação do novo homem comum para uma sociedade de trabalho
científico e não empírico, prepara trabalhadores para três fases do saber: A
pesquisa, o ensino e a tecnologia. Todos teriam tudo em comum, exceto o gosto
diferenciado por uma das fases.
Se fizermos um paralelo
com o séc. XXI, podemos fazer as seguintes perguntas: Em que medida a escola
constitui uma agência de educação do homem comum e contemporâneo? Vivemos a era
da informação e conectividade, o conhecimento científico está ao alcance das
mãos, basta ter um computador conectado na internet. A educação do séc. XXI
ministrada aos alunos contemporâneos é estimulante e atende as suas
necessidades? Até que ponto os prepara para a realidade da vida? A sociedade
estará preparada para dar as respostas certas para os desafios futuros?
Parece-me, que estamos no
fim de uma era, a educação ministrada até momento presente sofrerá uma grande
transformação, para lida com as novas realidades, tecnologias e possibilidades.
Por exemplo, como iremos nos educar, quando pudermos fazer um implante cerebral
de um chip de computador? Como iremos lidar com a nanotecnologia e a revolução
biológica que teremos? Como iremos lida com a cibernética avançada? A cibernética
é uma tentativa de compreender a comunicação e o controle de máquinas, seres
vivos e grupos sociais através de analogias com as máquinas eletrônicas. Como o
homem irá educar um Ciborgue, o homem máquina? Um Ciborgue é um organismo
cibernético, isto é, um organismo dotado de partes orgânicas e cibernéticas,
geralmente com a finalidade de melhorar suas capacidades utilizando tecnologia
artificial. Estes e mais outros são os desafios que estão a nossa frente, a
pergunta é: O homem comum está sendo preparado para os desafios do futuro, que
se apresentam no presente?
A educação deixou de ser
a atividades de alguns para ser a atividades de todos. A escola é uma
instituição que se transforma em uma agência de educação dos trabalhadores
comuns, dos trabalhadores qualificados, dos trabalhadores especializados em
técnicas de toda ordem e dos trabalhadores da ciência nos seus aspectos de
pesquisa, teoria e tecnologia. Todas as escolas, do nível primário ao
universitário, passaram a ser dominantemente escolas de ciências, já ensinando
suas aplicações generalizadas, já as suas teorias especializadas, já o próprio
trabalho de pesquisa, seja no campo teórico, seja no campo da aplicação.
É uma revolução
educacional, a partir deste novo paradigma a sociedade educada passa a ser uma
sociedade científica. Passa a valorizar tudo que tem uma utilidade prática
conforme o uso da razão. O ensino se faz pelo trabalho e pela ação, e não
somente pela palavra e pela exposição, como outrora, quando o conhecimento
racional era de natureza especulativa, e destinado à pura contemplação do
mundo.
Sendo este o modelo de
escola adequado, até que ponto o sistema educacional brasileiro se aproxima
deste modelo?
No Brasil há ilhas de
excelência, não é o padrão do sistema de ensino brasileiro. Alguns cursos
técnicos profissionalizantes, alguns cursos universitários se aproximam deste
modelo vigente. Mas percebo que estamos diante de uma nova fronteira do
conhecimento, a evolução tecnológica irá criar um novo modelo de educação. A
informação estará disponível e será acessada automaticamente com a ajuda da
robótica, e a questão será: O que faremos com a informação que viermos a
conhecer? Este será um dilema filosófico e até ético, que têm por princípio
fundamentar a conduta moral do homem. Que tipo de sociedade o homem irá
construir? Uma sociedade da informação, do conhecimento e da ação fundamentada
em princípios? O homem passará a ser educado para a ação? Pois o conhecimento
já estará disponível e de fácil acesso? Olhando para frente, o futuro é a
resposta a estas questões do presente, que são atuais e moldarão a vida humana.
No presente o modelo
educacional brasileiro poderia ser muito bem empregado na Idade Média. Onde a
atividade escolar consiste em “aulas”, que os alunos “ouvem”, algumas vezes
tomando notas, e “exames” em que se verifica o que sabem, por meio de provas
escritas e orais. Marcam-se alguns “trabalhos” para casa e na casa se supõe que
o aluno “estuda”, o que corresponde a fixar de memória quando lhe tenha sido
oralmente ensinado na aula. O modelo educacional brasileiro está obsoleto, não
é capaz de atender as demandas do presente e nem projetar uma alternativa para
o futuro. Está aprisionado em um sistema que precisa melhorar sofrer uma
reforma pedagógica. Devemos voltar a fazer as seguintes perguntas: O que é
ensinar? Oque é estudar? O que é aprender? E quando se está formado? Até que
ponto o ensino brasileiro prepara para a vida?
A escola brasileira vive
uma crise, são arcaicas nos seus métodos e ecléticas, se não enciclopédicas,
nos currículos, não são de preparo verdadeiramente intelectual, não são
práticas, não são técnico-profissionais, nem são de cultura geral, então: O que
é a escola brasileira? Ser educado escolarmente significa, no Brasil, não ser
operário, não ser membro da classe trabalhadora.
A educação de qualidade é
um processo educativo seletivo, destinado a retirar da massa alguns
privilegiados para uma vida melhor, se fará possível exatamente porque muitos
ficarão na massa a serviço dos “bem educados”, e então o sistema funciona,
exatamente por não educar bem a todos, mas somente uma parte. A educação de
qualidade é um privilégio de poucos.
A ideia de escola comum
ou pública, nascida com a Revolução Francesa, a maior invenção social de todos
os tempos, que importa sobrepor-se ao conceito de classe e promover uma
educação destinada a todos os indivíduos, sem a intenção ou o propósito de
prepará-los para quaisquer das classes existentes é uma utopia no Brasil. A
escola comum, a escola para todos, nunca chegou entre nós a se caracterizar, ou
a ser de fato para todos. A escola de qualidade é para a chamada elite.
Mas este dualismo escolar
entre os favorecidos ou privilegiados e os desfavorecidos ou desprivilegiados
pode entrar em crise, com a formação de uma consciência comum de direitos em
todo povo brasileiro, deparamo-nos com um sistema escolar de todo inadequado
para lidar com o verdadeiro problema educativo de um povo uno e indiviso.
Há a necessidade de se
fazer uma reforma na política educacional, é dever do governo, dever
democrático, dever constitucional, dever imprescritível, que é oferecer ao
brasileiro uma escola fundamental capaz de lhe dar a formação fundamental
indispensável ao seu trabalho comum, uma escola média capaz de atender à
variedade de suas aptidões e das ocupações diversificadas de nível médio, e uma
escola superior capaz de lhe dar a mais alta cultura e ao mesmo tempo, a mais
delicada especialização. As autoridades são responsáveis por propor uma reforma
no sistema educacional brasileiro, tem que olhar para frente, procurar entender
o impacto das novas tecnologias na educação brasileira, propor uma política
educacional de vanguarda, que vislumbre o futuro, que possibilite a sociedade
dar um salto e superar o abismo existente no sistema educacional brasileiro.
Uma educação comum e igual para todos, é uma educação sem privilégios. É o
maior objetivo a ser alcançado.